As pessoas parecem que ficam anestesiadas e sem reação com as coisas que são comprovadamente prejudicial à saúde humana. Uma coisa desta é para todo mundo parar de comer carne AGORA e mandar prender os caras que estão promovendo este tipo de situação.... Estou errada, gente?
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Superbactérias ficam mais fortes com o uso de remédios na agropecuária. Elas podem causar graves infecções
Invisíveis a olho nu, mas com uma incrível capacidade de sobreviver e de se tornarem resistentes aos mais diversos tratamentos. Na guerra contra o desenvolvimento das chamadas superbactérias, muito se fala sobre a necessidade de controle do uso dos antibióticos em seres humanos. Mas, para além da superlotação em hospitais, a ameaça também pode vir dos animais e das plantas.
Segundo especialistas, 80% dos antibióticos prescritos estão ligados à criação de animais e à agricultura. Esse uso indiscriminado - inclusive como método de engorda e de crescimento de porcos, frangos, peixes e outros bichos - acelera a mutação das bactérias, que podem chegar aos humanos através da carne ou do ambiente.
“Os antibióticos foram usados por muito tempo sem nenhum tipo de controle. Isso auxilia na seleção de bactérias resistentes, causando uma pressão seletiva. Trata-se um porco com antibiótico, essas bactérias são selecionadas dentro dele e depois chegam até o solo e a água através das fezes e da urina. Quem come a carne mal cozida também pode entrar em contato com elas”, explica a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, Ana Paula Assef.
Controle
O médico infectologista Carlos Urbano destaca que o risco é iminente até nos frigoríficos, onde os funcionários estão expostos as bactérias contidas na carne crua. “Essas substâncias são usadas sem o acompanhamento de um veterinário. Assim como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a venda de antibióticos sem prescrição médica nas farmácias, o mesmo deveria ocorrer com os animais”, pontua.
De acordo com o coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Central, Bil Bassetti, o risco de uma contaminação cruzada entre homens, animais e vegetais está mais perto do que se imagina. Como exemplo, ele cita a classe de genes MCR-1, identificada inicialmente em frangos, em 2016, e já detectada em hospitais do Espírito Santo, causando graves infecções.
Quando adquirida por bactérias, essa classe de genes é capaz de torná-las resistentes até mesmo a antibióticos utilizados no tratamento de microrganismos já considerados multirresistentes. “Desde o ano passado, começou a haver uma consciência maior dos órgãos de controle brasileiros, mas em outros países ela já existe há tempos. Nos Estados Unidos, as carnes de fast food são classificadas de acordo com a utilização de antibióticos”, afirma Bil.
Hospitais
Por outro lado, ambiente fechado, uso frequente de antibióticos e pacientes com saúde debilitada são características que tornam os hospitais mais suscetíveis à adesão de bactérias multirresistentes. Prova disso está na lista das superbactérias mais perigosas lançada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Dos 12 microrganismos listados, os três primeiros (Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacteriaceae), considerados mais críticos, provocam infecções hospitalares.
Ana Paula Assef estima que ao menos 23 mil mortes ocorram por ano no Brasil em função do problema. E o risco aumenta quando há superlotação, já que as normas de higienização são comprometidas. “Com pacientes lado a lado o risco de transmissão é maior. Quando uma bactéria é identificada, o paciente deve ser isolado, mas como fazer isso quando não há nem leitos? Até o fato de os profissionais não conseguirem lavar as mãos entre os atendimentos pode passar bactérias”, diz.
Em resposta, o Ministério da Saúde afirma que está em fase final de elaboração do Plano de Ação Nacional para a Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos. Além de investir em conscientização e no fortalecimento de pesquisas, o documento apresentará medidas de otimização do uso de antibióticos para pessoas e animais, criação de novos medicamentos e ampliação de saneamento e higiene para a prevenção de infecções.
Já o Ministério da Agricultura, que também participa da criação do plano, afirma que desde 1988 vem proibindo o uso de certas medicações para o crescimento de animais. A última restrição ocorreu em 2012.
Corrida para criar novas alternativas
Enquanto a descoberta de novos antibióticos pode levar anos, as bactérias precisam de muito menos tempo para se adaptar e inutilizar as substâncias já existentes. Especialistas de todo o mundo temem a chegada de um tempo em que nenhum medicamento anti-microrganismos será eficaz no tratamento de infecções e a corrida em busca de novas alternativas já começou.
Caso isso aconteça, o médico infectologista Carlos Urbano explica que a tendência é que doenças hoje consideradas simples, tornem-se complexas. “Hoje, os Estados Unidos já dão incentivos fiscais para que as indústrias pesquisem novos antibióticos”, explica ele.
Este mês, um grupo internacional de estudos publicou a descoberta de um novo inibidor da substância LpxC, importante para a formação da membrana externa de várias bactérias. Batizado de LPC-069, o inibidor se mostrou capaz de curar doenças bacterianas graves, incluindo a peste bubônica. Os estudos provaram que ele é capaz de agir, inclusive, sobre linhagens de bactérias resistentes a múltiplos fármacos.
Mas, em contrapartida, Carlos Urbano alerta que o uso de antibióticos deve ser controlado para desacelerar o processo de seleção de bactérias multirresistentes. “O problema não está só nos hospitais, mas também nos consultórios. Doenças como amidalites, otites e sinusites são causadas por vírus em sua maioria, mas antibióticos que não deveriam ser usados ainda são prescritos. É preciso investir na conscientização das pessoas e na melhor formação dos profissionais de saúde”, argumenta Urbano.
Descarte errado de remédios é problema
Seja pelos ralos das pias, vasos sanitários ou pelo lixo, muitos medicamentos são lançados no solo e na água. Por isso, a falta de medidas que regularizem o descarte das drogas no Brasil pode ser mais uma aliada para a criação de bactérias resistentes.
A tese é defendida pelo presidente do Conselho Regional de Farmácia, Gilberto Dutra: “Qualquer bactéria na natureza que entre em contato com um antibiótico pode criar resistência”, justifica. Ele é membro do Grupo de Trabalho de Política Reversa do Conselho Federal de Farmácia, que tem como objetivo discutir este e outros temas relacionados ao descarte irregular de fármacos.
A advogada Clenir Avanza também participa do grupo e afirma que o grande problema é que a Lei de 2010 que institui a Política Nacional de Descarte de Resíduos Sólidos estabelece apenas que o descarte seja feito através de um acordo entre os setores de produção dos medicamentos. “Mas até hoje não se chegou a um acordo e as pessoas não sabem o que fazer com os remédios vencidos”, lamenta.
De acordo com o infectologista Bil Bassetti, o risco existe, mas precisa ser melhor estudado para que os impactos sejam mensurados. “O fato é que locais como a Baía de Guanabara (RJ) tem confirmadas bactérias multirresistentes em suas águas”, diz.
Invisíveis a olho nu, mas com uma incrível capacidade de sobreviver e de se tornarem resistentes aos mais diversos tratamentos. Na guerra contra o desenvolvimento das chamadas superbactérias, muito se fala sobre a necessidade de controle do uso dos antibióticos em seres humanos. Mas, para além da superlotação em hospitais, a ameaça também pode vir dos animais e das plantas.
Segundo especialistas, 80% dos antibióticos prescritos estão ligados à criação de animais e à agricultura. Esse uso indiscriminado - inclusive como método de engorda e de crescimento de porcos, frangos, peixes e outros bichos - acelera a mutação das bactérias, que podem chegar aos humanos através da carne ou do ambiente.
“Os antibióticos foram usados por muito tempo sem nenhum tipo de controle. Isso auxilia na seleção de bactérias resistentes, causando uma pressão seletiva. Trata-se um porco com antibiótico, essas bactérias são selecionadas dentro dele e depois chegam até o solo e a água através das fezes e da urina. Quem come a carne mal cozida também pode entrar em contato com elas”, explica a pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, Ana Paula Assef.
Controle
O médico infectologista Carlos Urbano destaca que o risco é iminente até nos frigoríficos, onde os funcionários estão expostos as bactérias contidas na carne crua. “Essas substâncias são usadas sem o acompanhamento de um veterinário. Assim como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a venda de antibióticos sem prescrição médica nas farmácias, o mesmo deveria ocorrer com os animais”, pontua.
De acordo com o coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Central, Bil Bassetti, o risco de uma contaminação cruzada entre homens, animais e vegetais está mais perto do que se imagina. Como exemplo, ele cita a classe de genes MCR-1, identificada inicialmente em frangos, em 2016, e já detectada em hospitais do Espírito Santo, causando graves infecções.
Quando adquirida por bactérias, essa classe de genes é capaz de torná-las resistentes até mesmo a antibióticos utilizados no tratamento de microrganismos já considerados multirresistentes. “Desde o ano passado, começou a haver uma consciência maior dos órgãos de controle brasileiros, mas em outros países ela já existe há tempos. Nos Estados Unidos, as carnes de fast food são classificadas de acordo com a utilização de antibióticos”, afirma Bil.
Hospitais
Por outro lado, ambiente fechado, uso frequente de antibióticos e pacientes com saúde debilitada são características que tornam os hospitais mais suscetíveis à adesão de bactérias multirresistentes. Prova disso está na lista das superbactérias mais perigosas lançada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Dos 12 microrganismos listados, os três primeiros (Acinetobacter baumannii, Pseudomonas aeruginosa e Enterobacteriaceae), considerados mais críticos, provocam infecções hospitalares.
Ana Paula Assef estima que ao menos 23 mil mortes ocorram por ano no Brasil em função do problema. E o risco aumenta quando há superlotação, já que as normas de higienização são comprometidas. “Com pacientes lado a lado o risco de transmissão é maior. Quando uma bactéria é identificada, o paciente deve ser isolado, mas como fazer isso quando não há nem leitos? Até o fato de os profissionais não conseguirem lavar as mãos entre os atendimentos pode passar bactérias”, diz.
Em resposta, o Ministério da Saúde afirma que está em fase final de elaboração do Plano de Ação Nacional para a Prevenção e Controle da Resistência aos Antimicrobianos. Além de investir em conscientização e no fortalecimento de pesquisas, o documento apresentará medidas de otimização do uso de antibióticos para pessoas e animais, criação de novos medicamentos e ampliação de saneamento e higiene para a prevenção de infecções.
Já o Ministério da Agricultura, que também participa da criação do plano, afirma que desde 1988 vem proibindo o uso de certas medicações para o crescimento de animais. A última restrição ocorreu em 2012.
Enquanto a descoberta de novos antibióticos pode levar anos, as bactérias precisam de muito menos tempo para se adaptar e inutilizar as substâncias já existentes. Especialistas de todo o mundo temem a chegada de um tempo em que nenhum medicamento anti-microrganismos será eficaz no tratamento de infecções e a corrida em busca de novas alternativas já começou.
Caso isso aconteça, o médico infectologista Carlos Urbano explica que a tendência é que doenças hoje consideradas simples, tornem-se complexas. “Hoje, os Estados Unidos já dão incentivos fiscais para que as indústrias pesquisem novos antibióticos”, explica ele.
Este mês, um grupo internacional de estudos publicou a descoberta de um novo inibidor da substância LpxC, importante para a formação da membrana externa de várias bactérias. Batizado de LPC-069, o inibidor se mostrou capaz de curar doenças bacterianas graves, incluindo a peste bubônica. Os estudos provaram que ele é capaz de agir, inclusive, sobre linhagens de bactérias resistentes a múltiplos fármacos.
Mas, em contrapartida, Carlos Urbano alerta que o uso de antibióticos deve ser controlado para desacelerar o processo de seleção de bactérias multirresistentes. “O problema não está só nos hospitais, mas também nos consultórios. Doenças como amidalites, otites e sinusites são causadas por vírus em sua maioria, mas antibióticos que não deveriam ser usados ainda são prescritos. É preciso investir na conscientização das pessoas e na melhor formação dos profissionais de saúde”, argumenta Urbano.
Descarte errado de remédios é problema
Seja pelos ralos das pias, vasos sanitários ou pelo lixo, muitos medicamentos são lançados no solo e na água. Por isso, a falta de medidas que regularizem o descarte das drogas no Brasil pode ser mais uma aliada para a criação de bactérias resistentes.
A tese é defendida pelo presidente do Conselho Regional de Farmácia, Gilberto Dutra: “Qualquer bactéria na natureza que entre em contato com um antibiótico pode criar resistência”, justifica. Ele é membro do Grupo de Trabalho de Política Reversa do Conselho Federal de Farmácia, que tem como objetivo discutir este e outros temas relacionados ao descarte irregular de fármacos.
A advogada Clenir Avanza também participa do grupo e afirma que o grande problema é que a Lei de 2010 que institui a Política Nacional de Descarte de Resíduos Sólidos estabelece apenas que o descarte seja feito através de um acordo entre os setores de produção dos medicamentos. “Mas até hoje não se chegou a um acordo e as pessoas não sabem o que fazer com os remédios vencidos”, lamenta.
De acordo com o infectologista Bil Bassetti, o risco existe, mas precisa ser melhor estudado para que os impactos sejam mensurados. “O fato é que locais como a Baía de Guanabara (RJ) tem confirmadas bactérias multirresistentes em suas águas”, diz.
FONTE: gazetaonline