Pescar Tubarões em Recife para Evitar Ataques
Atitude Correta ou Sensacionalismo?
Por Marcelo Szpilman*
Atitude Correta ou Sensacionalismo?
Por Marcelo Szpilman*
Quando um grupo de cidadãos se reúne para incentivar a matança de seres vivos na Natureza, devemos nos alertar sobre algo estar muito errado. Ou essas pessoas estão radicalizando de forma imprudente ou estão usando a questão como mera plataforma midiática para ter visibilidade à custa de sensacionalismo. Sendo a segunda op&¸ão, eles já foram bem-sucedidos.
No Jornal Nacional (Rede Globo) do último sábado, dia 19, William Bonner abriu a matéria “Incentivo à Pesca de Tubarões em Recife revolta ambientalistas em Pernambuco” dizendo que um grupo de cidadãos criou um movimento em Pernambuco que incentiva a captura de tubarões no
estado. Mais à frente, a repórter diz que, em função dos 57 ataques com 21 fatalidades (números incorretos) nos últimos 20 anos, o medo dos tubarões se espalhou e chegou ao ponto de um grupo se reunir para combinar estratégias para evitar novos ataques. O movimento, que se denomina Propesca, defende a captura dos animais, fornece material para os pescadores e até oferece uma recompensa em dinheiro.
A matéria diz ainda que o grupo, formado por engenheiros de pesca, biólogos e médicos, defende também a instalação de uma tela de aço galvanizado ao longo dos 16 quilômetros de litoral como medida protetora. E o coordenador do grupo, Bruno Pantoja, afirma em tom de ameaça (ou chantagem): “a partir do momento que forem implantados os sistemas de segurança que nós propomos, nós cessamos todas as ações de captura”.
Eu poderia simplesmente dizer que se trata de um grupelho de ineptos que age de forma irresponsável, mas, em benefício do esclarecimento, arrolo abaixo o que penso sobre o assunto.
1 – Incentivar a captura dos tubarões para evitar ataques
Achar que eliminando os tubarões eles acabarão com os ataques é um pensamento l&´gico, mas completamente absurdo e antiecológico. É tão óbvio e absurdo quanto dizer que acabando com os leões, elefantes e hipopótamos na África cessarão os ataques desses animais. E é antiecológico porque os tubarões exercem um papel crucial na manutenção da saúde e do equilíbrio dos ecossistemas marinhos, incluindo o litoral pernambucano, e, sem a presença deles, as consequ&ˆncias serão imprevisíveis.
2 – Contribuir para a imagem sensacionalista e irreal dos tubarões
Ao acreditar que a solução para dar segurança nas praias passa por “limpar as águas infestadas por essas feras”, essas pessoas contribuem para fortalecer a distorcida imagem do tubarão como um animal perverso e sanguinário e para estimular a fobia coletiva.
3 – Tratar a questão dos ataques de forma leviana
Os incidentes com os tubarões na Grande Recife começaram após um desequilíbrio ambiental provocado pelo homem, com a construção do Porto de Suape no início da década de 1990, que conjugou fatores locais específicos que aumentaram tremendamente a interação entre o homem e o tubarão e, consequentemente, os riscos de ataque. E, desde então, ataques de tubarão, com mutilações e mortes, passaram a ser um problema real que exigia soluções (foram 15 ataques somente em 1994). E para tratar do problema, pode-se atuar sobre duas pontas: os tubarões ou as pessoas.
Ao contrário do Propesca, que agora promove uma insana caçada aos tubarões, como no filme de ficção do Spielberg, o Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit) fez a escolha certa e de bom-senso __ atuar principalmente sobre as pessoas. Composto por representantes dos mais diversos segmentos da sociedade, o Cemit foi criado pelo Governo do Estado de Pernambuco, em maio de 2004, com o objetivo de discutir, deliberar e implantar ações recomendadas pelos workshops realizados em 1995 e 2004 (do qual participei). Desta forma, o Cemit realizou campanhas educativas, estabeleceu fiscalização, orientação e segurança nas praias e promoveu a pesquisa e o monitoramento dos tubarões.
Apesar dos interesses conflitantes dos diversos setores da sociedade pernambucana, não obstante o respeito devido aos atacados e seus familiares (conheci alguns nas palestras que ministrei em Recife) e a despeito do Propesca insistir que o risco e o medo aumentaram, os números comprovam que o Cemit fez e continua fazendo um excelente trabalho de esclarecimento e de educação dos surfistas e banhistas, com visíveis resultados na prevenção e queda dos ataques. De 1990 a 2004, foram 46 ataques com 18 fatalidades, o que dá uma média de 3,3 ataques por ano. Depois da criação do Cemit, de 2005 a 2012, houve apenas 9 ataques com 3 fatalidades, configurando uma média de 1,3 ataque por ano.
4 – Oferecer recompensa em dinheiro para a captura de tubarões
Não sou advogado ou jurista, e por isso não posso afirmar que oferecer recompensa para capturar tubarões é crime ambiental, mas, como cidadão, acredito que seja absolutamente antiético fazer isso. Ainda mais em se tratando de um grupo constituído por pessoas de nível superior. Pessoas que deveriam ser mais esclarecidas e dar bons exemplos.
5 – Instalar tela de aço ao longo do litoral de Recife
Se no Estado de Pernambuco foram 55 ataques nos últimos 22 anos, no Estado da Flórida (EUA) ocorreram 500 ataques no mesmo período. Ou seja, dez vezes mais. Mas lá não se vê grupelhos empenhados na eliminação dos tubarões ou na defesa de instalação de redes ou telas de proteção. E por que não?
Porque redes e telas de proteção são coisas de um passado em que não existia preocupação ou respeito pela vida dos outros seres vivos que nos rodeiam e compartilham o Planeta conosco. Uma época em que se caçava baleia e se matava passarinho. Está mais do que provado que redes e telas de proteção sacrificam inúmeras outras espécies de animais marinhos que nada têm a ver com o problema dos ataques de tubarão.
Além disso, a tela de aço precisaria ser muito bem vistoriada e conservada ao longo do tempo para evitar a criação de buracos que permitiriam a entrada de tubarões que, posteriormente, percorreriam a praia à procura de uma saída. Ou seja, a tela de aço poderia atuar no sentido oposto, como uma armadilha, aprisionando os tubarões. E, em se tratando de Brasil, as chances de isso acontecer seriam grandes.
Espero que eu tenha sido capaz de me fazer entender, especialmente para os membros do Propesca. Ainda assim, dois colegas meus __ Rosangela Lessa, atual presidente do Cemit, e Francisco Santana, atual presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Elasmobrânquios (Sbeel) __, ambos professores da UFRPE e altamente conceituados nessa área, talvez possam fazê-los entender melhor do que eu.
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Instituto Ecológico Aqualung
Rua do Russel, 300 / 401, Glória, Rio de Janeiro, RJ. 22210-010
Tels: (21) 2558-3428 ou 2558-3429 ou 2556-5030
Fax: (21) 2556-6006 ou 2556-6021
E-mail: instaqua@uol.com.br
Site: http://www.institutoaqualung.com.br
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fizeram petição, um cidadão de Recife
ResponderExcluirhttp://www.avaaz.org/po/petition/preservacao_de_especies_em_risco_de_tubaroes_no_litoral_de_pernambucobrasil/?launch
Vamos matar todas as pessoas para acabar com mortes por assassinatos cometidos por humanos,que tal?Pq não acabam com bebidas alcoólicas visto que muito mais gente morre disto,de brigas,de acidentes(que não considero acidente)qdo alguém embriagado atropela alguém,etc.
ResponderExcluirParabenizando o esclarecimento do Marcelo e, pelo que aprendi com ele e outros pesquisadores de elasmobranquios para uma ação civil publica há alguns anos, tendo assistido nos últimos anos o trabalho do Pinguim, fico estarrecida com o desconhecimento das pessoas em relação a estes animais. Em outubro do mês passado, o Pinguim fez uma manifestação na praia de Boa Viagem contra a colocação das cercas, que só tem efeito para chamar turistas desinformados e, salvo para o Spilberg, humanos nao fazem parte da cadeia alimentar dos tubarões . Os ataques em Recife são motivados porque a natureza faz com que as mães se dirijam ao manguezal para ter seus filhotes e são surpreendidas com um Porto feito pelos homens. Elas chegam famintas e nao encontram alimento nem local apropriado para o nascimento dos filhotes. Com fome, procuram algo para comer. Os tubarões tem a visão turva e vendo do fundo do mar para a superfície, eles vêem uma prancha com nadadeiras e, pensando se tratar de tartaruga, foca, leão marinho, etc, eles mordem. São os ataques de tubarões . Frise-se que os tubarões se alimentam de algas, peixes e animais de sangue frio, nao de humanos. Por isso eles mordem, pode arrancar um pedaço, mas nao comem os humanos.
ResponderExcluirE lamentável que se queira refazer o mesmo equivoco de uma praia australiana - matam os tubarões e, sem o topo da cadeia alimentar dos mares, outras espécies que teriam população controlada pelos tubarões procriam sem controle natural causando o total desequilíbrio ecológico.
Perfeito Ana...
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