Ainda bem que a coisa está se profissionalizando. Isto é caso de tratamento e não de polícia como é defendido por um certo inspetor da policia civil aqui do Rio.
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A maior parte das pessoas classificadas como acumuladoras de animais e/ou objetos em Curitiba é formada por mulheres, idosas, com baixa renda e pouca escolaridade e que vivem sozinhas. Os dados fazem parte de um estudo epidemiológico inédito, realizado pela doutoranda Graziela Ribeiro da Cunha, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFPR, em parceria com as secretarias municipais da Saúde, Meio Ambiente e Assistência Social. O trabalho serve de base para a elaboração de um guia destinado a capacitar profissionais do serviço público para o atendimento de acumuladores.
O acúmulo compulsivo é uma dificuldade persistente de se desfazer de objetos ou animais, independente de seu valor real. Ele pode representar um grave problema de saúde pública, colocando em risco a saúde, a segurança e o bem-estar dos envolvidos e da comunidade em seu entorno.
“A acumulação compulsiva é movida por uma necessidade de salvar os animais ou objetos e angústia em separar-se deles”, explica Graziela. “O acúmulo congestiona e obstrui áreas de convivência internas e externas, ameaçando toda a comunidade devido ao risco de desabamentos, incêndios e problemas de ordem sanitária. Os casos de acúmulo compulsivo que envolvem animais são também caracterizados pela incapacidade de fornecer os padrões mínimo de saneamento, espaço, alimentação e cuidados veterinários.”
O estudo compilou e analisou denúncias a respeito de acumuladores de animais e/ou objetos recebidas pelas secretarias de Meio Ambiente, Saúde e Assistência Social de Curitiba no período de setembro de 2013 a abril de 2015. Foram confirmados 113 casos, dos quais 69 foram completamente avaliados. Desses, 62,32% envolviam mulheres e 37,68%, homens. A idade dos acumuladores variou de 33 a 84 anos, mas a maior parte (57,97%) são idosos. Grande parte deles (76,81%) relatou problemas de saúde.
Outras características predominantes: 63,76% dos acumuladores estudaram até o ensino médio; 50,72% recebiam até um salário mínimo por mês e 39,13%disseram que viviam sozinhos.
O estudo também constatou que em 88,4% dos casos havia no ambiente risco de proliferação de vetores e em 65,21% havia odor desagradável no local. Risco de incêndio e desabamento foi relatado em 34,78% dos casos e de desabamento, em 13,04%.
Em relação à localização, o estudo revelou maior concentração de casos na região norte da cidade – mas, como é uma região mais urbanizada, existe a suspeita de que pode na verdade ter havido mais denúncias nessa região.
Protocolo
O levantamento de dados realizado para o estudo tem o objetivo de obter subsídios para o estabelecimento de um protocolo de atenção específico, multidisciplinar e intersetorial para a abordagem dos casos. “O mapeamento permitiu a identificação de áreas consideradas prioritárias para a aplicação das estratégias de intervenção pelo poder público, além da criação do grupo de trabalho que contribuiu na difusão do conhecimento sobre o tema”, comenta Graziela. Ela ressalta a importância da participação de profissionais médicos veterinários como parte desse grupo de trabalho.
O projeto resultou no desenvolvimento do “Guia de Orientação – Abordagem de indivíduos com comportamento de Acumulação de objetos e/ou animais”, material que está em fase final de elaboração e deverá ser lançado em breve. Trata-se de um guia realizado em parceria com a Prefeitura de Curitiba e que propõe as bases para a criação de uma Linha de Cuidado aos indivíduos que apresentam o comportamento de acumulação compulsiva. “A complexidade e gravidade dos casos exige a implementação de ações específicas e um plano de cuidado integral para a condução dos casos sob uma perspectiva de saúde única, ou seja, da saúde humana, animal e ambiental”, explica Graziela.
A problemática desse tipo de acumulação é multidisciplinar e envolve questões sociais, sanitárias e ambientais, causando impacto na saúde das pessoas direta e indiretamente envolvidas, dos animais e do meio ambiente. Nesse sentido, é importante e necessário o envolvimento de profissionais de várias áreas para que possa ser discutido e pensado em um encaminhamento correto para os casos.
A primeira parte do estudo, que contém a frequência e distribuição espacial dos casos, pode ser conferida neste link. A segunda parte, que contém o levantamento das principais características dos casos de acumulação, foi submetida à revista BMC Public Health e está em processo de avaliação editorial.
Fonte: Bem Paraná