O que é lamentável é ter que escrever "caçados ilegalmente".... é, porque tem os "caçados legalmente", né mesmo? tudo para o uso do chifre do animal.... que gente maldita.....
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A história do rinoceronte-negro é um perfeito exemplo da estupidez humana. No ano 1700 existiam, na África, cerca de 850 mil rinocerontes-negros. Em 1970, a população diminuiu para 65 mil. Hoje existem apenas 5.050 animais!
Três razões levaram os rinocerontes-negros (Diceros bicornis) à beira da extinção. A
primeira é matar o animal para cortar e vender os dois chifres à indústria farmacêutica chinesa. A crença que o pó da queratina do chifre provoque um maior estímulo sexual faz com que chineses sejam cúmplices de uma matança indiscriminada e ignorante. O ridículo é que os efeitos excitantes do chifre não passam de mera ilusão.
A segunda causa é mais recente e vem de um país vizinho à China, o Vietnã. Um rumor, há apenas dez anos, de que um importante político local havia sido curado de câncer graças ao pó do chifre de rinoceronte, provocou uma corrida às farmácias tradicionais. O preço do quilo – que antes valia entre 250 e 500 dólares (R$ 1.000 a R$ 2.000) – explodiu e não havia chifres suficientes para os novos ricos vietnamitas, prontos para pagar qualquer valor para não sucumbir à doença.
A juventude vietnamita abastada também descobriu um novo uso: por sua propriedade de purificar o fígado, o pó também é usado como antídoto ao uso excessivo do álcool. Resultado: a caça ilegal aumentou pois o quilo do chifre vale até 100 mil dólares (R$ 400.000).
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A terceira demanda, bem menor em quantidade, vem do Oriente Médio, especialmente a península Arábica e o Iêmen. A adaga tradicional de lâmina curva e curta, chamada jambiya, precisa ter um cabo de osso. O osso mais elegante e cobiçado é o de chifre de rinoceronte.
Lei da economia de mercado, as matanças acompanharam a demanda do produto. Nos anos 1980, as quadrilhas de caça ilegal se armaram com fuzis AK-47 e, no Quênia, dizimaram os animais que não estavam em áreas protegidas. Um ano crítico para os rinocerontes-negros foi 1995: apenas 2.410 indivíduos sobreviviam no continente. Em três séculos, 99,5% da população foi aniquilada!
Em 1996, a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) soou o alarme e vários projetos de proteção aos rinocerontes africanos tiveram início. Em 2008, a população de rinocerontes-negros na África aumentou para 4.240 animais. Apesar da caça ilegal ter aumentado depois do frenesi de consumo vietnamita, o número de animais existentes hoje ainda conseguiu subir um pouco. Mas a cifra de 2015 – cerca de 5 mil animais – é uma fração ínfima dos 850 mil existentes há três séculos.
Os rinocerontes-negros são considerados pela UICN em “perigo crítico de extinção”, a designação mais alta de ameaça antes da extinção da espécie na natureza.
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Por possuir 40% da população mundial de rinocerontes-negros, a Namíbia passou a atrair tanto as câmeras dos turistas internacionais como, nos últimos cinco anos, as armas dos traficantes de chifres. Em 2011, apenas um rinoceronte havia sido morto. Em 2012, dois. No ano seguinte, 2013, já foram quatro. Em 2014, o número de animais caçados ilegalmente subiu dramaticamente para 25, mostrando que o novo mercado vietnamita está ainda sedento por chifres.
Infelizmente, os números parciais de 2015 são bem piores. Segundo o próprio Ministério do Meio Ambiente e Turismo (MET), 79 rinocerontes foram mortos no presente ano. As últimas duas carcaças – com os chifres cortados, obviamente – foram encontradas há pouco mais de uma semana, em 16/11 e 17/11. A maioria das caças ilegais aconteceu em lugares remotos do Parque Nacional Etosha, o maior e principal refúgio da espécie.
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Foi na Namíbia que encontrei o maior número de rinocerontes-negros. Em 2010, na Terra Comunitária de Conservação Tora, avistei meu primeiro grupo, composto pelo macho dominante, um macho adulto menor, duas fêmeas e um filhote.
A olho nu, percebo uma manchinha de nada. Fotografo com a lente 500 mm para ver se consigo algo. O guia Johann avisa que a melhor tática é deixar que os rinocerontes se acostumem com nossa presença. “Não devemos assustar os animais. Se eles se sentirem ameaçados, eles correm e não param mais”, afirma.
Os animais mudam de posição e entram atrás das moitas. Como não nos enxergam, o motorista aproveita para avançar 100 metros. Os rinocerontes passam longos minutos atrás do mato, onde há muita folha para comer.
O tempo passa. O macho sai da vegetação. Logo, as duas fêmeas e o menor. O macho e a fêmea olham em nossa direção. Johann sussurra e pede que não façamos nenhum movimento e barulho.
Os rinocerontes, conhecidos por possuir péssima visão, voltam a se alimentar. Agora os cinco animais estão no sol e formam um belo conjunto. Os cliques se multiplicam. Lentamente, os animais caminham em nossa direção. Eles mantêm a cabeça baixa a maior parte do tempo e comem as folhas dos arbustos. Quando levantam o pescoço pesado, como se procurassem os outros, o número de cliques aumenta.
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Checo o relógio. São 8h30 da manhã. Ficamos duas horas observando os rinocerontes-negros e a única ação que rendeu uma boa imagem aconteceu em dois segundos. Fotografar vida selvagem demanda muita paciência!
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