Se eu fosse algum governante, mandava limpar o local que os jacarés ficam e explorava o turismo de observação em prol de algum projeto educacional. Alimentava os animais para eles não comerem aquelas porcarias daquelas águas imundas e mantinha um biólogo no local para educar o povo. Tem um Instituto Jacaré monitorando os animais daquela área e o Facebook deles é ESTE:
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RIO — Jacarepaguá recebeu esse nome por causa dos inúmeros jacarés que viviam na região. Em Tupi, significa “vale dos jacarés”. Com o tempo, os animais foram sendo expulsos de seu habitat e empurrados para as margens das lagoas. Hoje, eles são figurinhas fáceis no bairro vizinho, o Recreio, e, muitas vezes, vão passear nas ruas e nos quintais dos moradores. Mas se engana quem pensa que os répteis estão se multiplicando. Na verdade, o número de animais vem caindo ao longo dos últimos anos, e a espécie está ameaçada de extinção no Rio.
Para o biólogo Ricardo Filho, que há quase duas décadas monitora os jacarés na Zona Oeste, vários fatores explicam essa redução. Ele cita a poluição, o encolhimento de seu habitat natural, o excesso de animais machos e até a alimentação inadequada jogada pelas pessoas. No início da noite da última quinta-feira, quatro adolescentes se divertiam jogando biscoito para os répteis no Canal das Tachas, que integra o Complexo Lagunar de Jacarepaguá.
— Nós vemos jacarés gordos, mas aquilo não é uma gordura saudável. Muitas vezes, há um estufamento dos órgãos. As pessoas pensam que estão ajudando os animais ao jogarem alimentos. Mas, na verdade, estão matando. Não é legal alimentar os bichos, seja com filé mignon ou com biscoito — explicou Ricardo Filho, fundador do Instituto Jacaré, empresa de consultoria ambiental.
Espécie corre risco de extinção
Devido ao acesso fácil à comida, os animais acabam se concentrando em um determinado ponto do Canal das Tachas, dando a impressão de que há mais répteis no local. Mas eles não estão se reproduzindo mais. De acordo com o biólogo, a espécie jacaré-de-papo-amarelo até corre risco de extinção no município do Rio, embora não esteja ameaçada em classificação nacional ou internacional alguma.
Moradora da comunidade do Terreirão, às margens do canal, Maria de Fátima Barbosa, de 56 anos, disse que já contou mais de 14 jacarés no local:
— Não sinto medo deles, mas não gosto quando as pessoas jogam comida, porque incentivam os animais a não saírem desse trecho.
A Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente atuou no entorno do Canal das Tachas, em março deste ano, e montou uma estrutura de concreto de 741 metros para evitar, de forma provisória, a saída de jacarés do curso da água.
— Além do cercamento, iniciamos campanha educativa para que a população entenda que é prejudicial alimentar os animais. Esse hábito inibe as habilidades e o comportamento natural para conseguirem comida. E estimula os répteis a seguirem para áreas residenciais, sem contar que uma comida inadequada pode provocar a alteração do metabolismo do animal — disse o secretário de Conservação e Meio Ambiente do Rio, Rubens Teixeira.
Moradores afirmam que, antes da construção da barreira, era comum animais rastejarem pelas ruas. No início do ano, uma postagem no Facebook dizia que um morador do Recreio teve um cão comido por um jacaré. Apesar de nunca ter encontrado vestígios de cachorro na barriga dos jacarés durante suas pesquisas, Ricardo afirma que, eventualmente, podem ocorrer ataques:
— Acontecem acidentes ocasionais por descuido ou até mesmo por maldade. Sei de casos, principalmente no Terreirão, de cachorro que vai beber água nas margens do canal e acaba jogado lá dentro, sendo deixado numa zona de conflito. Nesses casos, pode ocorrer um ataque, porque o cachorro tem característica de presa.
Para Ricardo, a extinção do jacaré-de-papo-amarelo também é reflexo do excesso de machos, o que dificulta a reprodução dos animais. Segundo ele, há dois motivos que explicam essa desigualdade: os machos costumam buscar novos territórios, invadem áreas urbanas e são capturados pelos órgãos públicos responsáveis. E, geralmente, os oficiais levam os répteis para o mesmo lugar, ou seja, Jacarepaguá. Outro fator é biológico: temperaturas mais elevadas geram jacarés do sexo masculino.
— O aumento da poluição leva à decomposição de material na água, o que acaba gerando mais calor. Eu brinco chamando o lugar de “Complexo de latrinas de Jacarepaguá”. Se houvesse um número equilibrado de machos e fêmeas, a competição seria menor. Atualmente, há mais atrito e menos reprodução. A taxa de crescimento da população de jacarés está negativa — disse Ricardo.
O biólogo Mario Moscatelli reforça o coro e se surpreende com o fato de a espécie conseguir sobreviver em meio a tanta poluição:
— O jacaré é um bicho tinhoso. Ultrapassou quatro extermínios em massa. Tem um sistema imunológico monstruoso. Em meio a tanta sujeira, encontram alguma condição ambiental para continuarem vivendo.
Fenômeno vira ponto turístico
Com vários prédios em construção na região, o espaço dos animais está sendo gradativamente reduzido. Eles têm sido obrigados a ficar em trechos específicos, como a região do Canal das Tachas perto do Terreirão. O lugar se tornou um ponto turístico, graças à presença numerosa dos répteis. O casal Marjorie Holanda e Valeriano Tibúrcio, que passava pelo local na quinta-feira, parou para observar os bichos.
— Minha irmã fala que eles são meus filhos, de tanto que eu venho aqui — brinca Marjorie.
Tibúrcio defende a preservação da espécie:
— Esse é um zoológico de graça. Poderia existir um projeto de saneamento para a comunidade e limpeza do canal. Os bichos vivem no esgoto, é uma pena.
Até mesmo pessoas de fora do Rio já estão sabendo da presença dos animais por ali.
— Eu acabei de chegar da Bahia. Minha tia disse que aqui tem muito jacaré, e eu vim ver. Já tirei várias fotos, estou surpresa com a quantidade — disse Júlia Porto, de 17 anos.
Ricardo também enfatiza que, além da importância biológica, há um significado cultural e histórico dos animais dentro da região de Jacarepaguá:
— As pessoas deveriam pensar na importância que os jacarés têm para a nossa região. Primeiro, ele é o que dá nome ao lugar. Se Jacarepaguá significa vale dos jacarés, há uma importância ecológica e cultural para o bairro.
Para o biólogo Ricardo Filho, que há quase duas décadas monitora os jacarés na Zona Oeste, vários fatores explicam essa redução. Ele cita a poluição, o encolhimento de seu habitat natural, o excesso de animais machos e até a alimentação inadequada jogada pelas pessoas. No início da noite da última quinta-feira, quatro adolescentes se divertiam jogando biscoito para os répteis no Canal das Tachas, que integra o Complexo Lagunar de Jacarepaguá.
— Nós vemos jacarés gordos, mas aquilo não é uma gordura saudável. Muitas vezes, há um estufamento dos órgãos. As pessoas pensam que estão ajudando os animais ao jogarem alimentos. Mas, na verdade, estão matando. Não é legal alimentar os bichos, seja com filé mignon ou com biscoito — explicou Ricardo Filho, fundador do Instituto Jacaré, empresa de consultoria ambiental.
Espécie corre risco de extinção
Devido ao acesso fácil à comida, os animais acabam se concentrando em um determinado ponto do Canal das Tachas, dando a impressão de que há mais répteis no local. Mas eles não estão se reproduzindo mais. De acordo com o biólogo, a espécie jacaré-de-papo-amarelo até corre risco de extinção no município do Rio, embora não esteja ameaçada em classificação nacional ou internacional alguma.
Moradora da comunidade do Terreirão, às margens do canal, Maria de Fátima Barbosa, de 56 anos, disse que já contou mais de 14 jacarés no local:
— Não sinto medo deles, mas não gosto quando as pessoas jogam comida, porque incentivam os animais a não saírem desse trecho.
A Secretaria municipal de Conservação e Meio Ambiente atuou no entorno do Canal das Tachas, em março deste ano, e montou uma estrutura de concreto de 741 metros para evitar, de forma provisória, a saída de jacarés do curso da água.
— Além do cercamento, iniciamos campanha educativa para que a população entenda que é prejudicial alimentar os animais. Esse hábito inibe as habilidades e o comportamento natural para conseguirem comida. E estimula os répteis a seguirem para áreas residenciais, sem contar que uma comida inadequada pode provocar a alteração do metabolismo do animal — disse o secretário de Conservação e Meio Ambiente do Rio, Rubens Teixeira.
Moradores afirmam que, antes da construção da barreira, era comum animais rastejarem pelas ruas. No início do ano, uma postagem no Facebook dizia que um morador do Recreio teve um cão comido por um jacaré. Apesar de nunca ter encontrado vestígios de cachorro na barriga dos jacarés durante suas pesquisas, Ricardo afirma que, eventualmente, podem ocorrer ataques:
— Acontecem acidentes ocasionais por descuido ou até mesmo por maldade. Sei de casos, principalmente no Terreirão, de cachorro que vai beber água nas margens do canal e acaba jogado lá dentro, sendo deixado numa zona de conflito. Nesses casos, pode ocorrer um ataque, porque o cachorro tem característica de presa.
Para Ricardo, a extinção do jacaré-de-papo-amarelo também é reflexo do excesso de machos, o que dificulta a reprodução dos animais. Segundo ele, há dois motivos que explicam essa desigualdade: os machos costumam buscar novos territórios, invadem áreas urbanas e são capturados pelos órgãos públicos responsáveis. E, geralmente, os oficiais levam os répteis para o mesmo lugar, ou seja, Jacarepaguá. Outro fator é biológico: temperaturas mais elevadas geram jacarés do sexo masculino.
— O aumento da poluição leva à decomposição de material na água, o que acaba gerando mais calor. Eu brinco chamando o lugar de “Complexo de latrinas de Jacarepaguá”. Se houvesse um número equilibrado de machos e fêmeas, a competição seria menor. Atualmente, há mais atrito e menos reprodução. A taxa de crescimento da população de jacarés está negativa — disse Ricardo.
O biólogo Mario Moscatelli reforça o coro e se surpreende com o fato de a espécie conseguir sobreviver em meio a tanta poluição:
— O jacaré é um bicho tinhoso. Ultrapassou quatro extermínios em massa. Tem um sistema imunológico monstruoso. Em meio a tanta sujeira, encontram alguma condição ambiental para continuarem vivendo.
Fenômeno vira ponto turístico
Com vários prédios em construção na região, o espaço dos animais está sendo gradativamente reduzido. Eles têm sido obrigados a ficar em trechos específicos, como a região do Canal das Tachas perto do Terreirão. O lugar se tornou um ponto turístico, graças à presença numerosa dos répteis. O casal Marjorie Holanda e Valeriano Tibúrcio, que passava pelo local na quinta-feira, parou para observar os bichos.
— Minha irmã fala que eles são meus filhos, de tanto que eu venho aqui — brinca Marjorie.
Tibúrcio defende a preservação da espécie:
— Esse é um zoológico de graça. Poderia existir um projeto de saneamento para a comunidade e limpeza do canal. Os bichos vivem no esgoto, é uma pena.
Até mesmo pessoas de fora do Rio já estão sabendo da presença dos animais por ali.
— Eu acabei de chegar da Bahia. Minha tia disse que aqui tem muito jacaré, e eu vim ver. Já tirei várias fotos, estou surpresa com a quantidade — disse Júlia Porto, de 17 anos.
Ricardo também enfatiza que, além da importância biológica, há um significado cultural e histórico dos animais dentro da região de Jacarepaguá:
— As pessoas deveriam pensar na importância que os jacarés têm para a nossa região. Primeiro, ele é o que dá nome ao lugar. Se Jacarepaguá significa vale dos jacarés, há uma importância ecológica e cultural para o bairro.
FONTE: extra.globo