22/10/2016

Tortura Nunca Mais - O resgate de uma galinha

A matéria está muito bem escrita. Lucia Estrela criou esta ONG, mas, foi Paulo Maia que a legalizou e deu vigor a ela. Geralmente, protetor esquece que pombo, galinha, biguá, e outros tantos mais, fazem parte da fauna urbana. É muito bom ler matérias que lembrem disto.
------------------------
O resgate de uma galinha

Três galinhas já lutavam contra a morte, no banco de trás do carro, quando o ambientalista Paulo Maia recebeu uma nova chamada. Ouviu o relato e pisou no acelerador rumo à sede da Petrobras, no Centro do Rio de Janeiro. Para a ave que ali padecia, cada minuto perdido naquela madrugada de agosto era um passo em direção ao abismo.

“Ela agonizava dentro de um alguidar com velas pretas, em frente à entrada da garagem”, lembrou Maia. “Uma cena terrível. As pernas tinham sido quebradas. Os olhos, furados com alfinetes. E as
pálpebras coladas com Super Bonder.” Ao pegar a galinha – uma poedeira branca –, reparou que o animal trazia dois pedaços de tecido amarrados ao corpo. Num deles, negro, estava anotado o nome Pedro. No outro, vermelho, o sobrenome Parente. Pedro Parente, o economista recém-nomeado pelo governo de Michel Temer para comandar a combalida estatal. “Escreveram o nome do cara com sangue humano”, continuou. “Eu, se fosse ele, contrataria segurança. Quem chega a um nível desses está disposto a qualquer coisa.”

Presidente da ONG SOS Aves e Companhia, Paulo Maia tem 52 anos e, há seis, vem resgatando todo tipo de bicho sacrificado em rituais religiosos. “Chamam meu carro de Arca de Noé”, disse, com orgulho. “Nele, já entraram bodes, carneiros e muitas galinhas. Só não entrou elefante.” Para justificar o que faz, costuma mencionar a lei federal 9605, de 1998, que proíbe maus-tratos aos animais. “Não tenho nada contra macumbeiro e vuduzeiro, mas um bicho sacrificado numa encruzilhada não é religião. É crime, e crime precisa ser combatido.”

Magro, grisalho e vegetariano, Maia se descobriu ambientalista ainda na infância, quando abriu a gaiola de um amigo do pai e libertou um bando de aves raras (a transgressão acabou repreendida). Aos 17 anos, morou na Amazônia, onde trabalhou com o ativista Chico Mendes e lutou pela preservação do boto cor-de-rosa. Na volta ao Rio, estudou jornalismo. Depois, fundou uma assessoria de imprensa, mas permaneceu ligado às causas ambientais. Em 2010, passou a dirigir a ONG, especializada no resgate de animais domésticos e selvagens.

No mesmo ano, avistou um bode ensanguentado numa encruzilhada a caminho de Petrópolis. “Eu, minha mulher e minha filha íamos para um casamento, todos a rigor. Parei o carro, chutei o alguidar, tirei a estaca que perfurava o pescoço do bode e tapei a ferida com gaze.” Colocou o bicho moribundo no banco traseiro – ao lado da filha – e tocou para o abrigo da ONG, no município de Saquarema, litoral fluminense. O bode sobreviveu e ganhou o nome de Francisco. A ida ao casamento foi abortada.

Constatada a triste recorrência de casos como o de Francisco, Maia achou por bem criar o projeto Bicho Sagrado, que busca salvar animais torturados em manifestações religiosas. “Enfrentei resistência no começo”, contou, relembrando que muita gente se negava a ajudá-lo por temer as consequências de mexer nos feitiços. Para driblar o receio alheio, ele repetia um mantra a quem se interessava em colaborar: “Não pense na macumba. Pense que está salvando um animal.” Hoje a ONG dispõe de 22 mil voluntários, espalhados pelo estado do Rio, e sobrevive graças a doações.

Naquela madrugada de domingo, Maia já havia resgatado três galinhas: no Cemitério de São João Batista, localizado no bairro carioca de Botafogo; em Del Castilho, na Zona Norte da cidade; e em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense. Ele dirigia para o abrigo da ONG, acompanhado de dois voluntários, quando soube do galináceo em frente ao edifício da Petrobras.

Chegando lá, agiu com rapidez. “Sempre carrego um kit de primeiros socorros no carro. Mal peguei o bicho no colo, lhe apliquei uma injeção de antibiótico. Depois, massageei o coração dele e fiz respiração boca a boca ao menos quinze vezes.” Pela violência impingida à ave, concluiu que o ritual era de magia negra. “O bicho agonizou por horas para que aquele homem também agonizasse.”

Levada ao abrigo, a galinha passou uma semana numa incubadora até terminar o tratamento alopático. Em seguida, puseram-na num recinto de 1 metro quadrado, protegida de outros animais, com ração à vontade e espaço para banho de sol. “É uma espécie de unidade semi-intensiva”, explicou Maia. Em breve, o bicho irá se juntar ao contingente de 150 galinhas, galos, marrecos e patos resgatados. Duas das outras três aves socorridas naquela noite morreram.

“A galinha da Petrobras deu sorte”, disse o ambientalista. “O voluntário teve coragem de me ligar, eu estava por perto, ainda havia antibiótico no carro e cheguei ao abrigo a tempo.” Ele acredita que o animal deverá se recuperar, embora vá ficar cego e com pouca mobilidade. Os alfinetes foram retirados dos olhos, mas as pálpebras permanecem coladas, e não há como engessar as pernas quebradas. “Lá no abrigo tem galinha sem asa, macaco sem braço. Tem uma fêmea de mico que amputou três patas e mesmo assim engravidou. Enquanto houver vida, vamos lutando.”

A ave ainda não foi batizada: “Soube que o Pedro Parente quer falar comigo, mas não arranjei tempo de ligar para o homem.” Quando o fizer, espera que o próprio presidente da Petrobras escolha o nome do bicho: “Essa galinha tem algo de especial. Não era para ter sobrevivido e sobreviveu. Nunca vi coisa assim…”

FONTE: piaui.folha.uol

8 comentários:

  1. até qe todos os animais sejem livres!!!!

    ResponderExcluir
  2. Beijo humildemente suas mãos, PAULO MAIA, pela coragem, destemor e garra. Sua família deve se orgulhar, com razão deste Homem de verdade com quem peões, açougueiros, toureiros, vaqueiros, carniceiros e “religiosos” do mal deveriam aprender a lição do humano superior que você é e o Filho de Deus abençoado e protegido que você merece ser. Que ELE o guarde de todo o mal porque o Planeta conta com você e o animais também, vá em frente porque o antídoto para vencer o mal é a bênção e não existe patuá mais forte do que carregar o BEM no coração. Sagrado é você.

    ResponderExcluir
  3. Essa gente que usa animais em cultos religiosos e feitiçarias, além de desumanas são muito ignorantes. Torturar e sangrar um animal para destruir a vida de outra pessoa? Que respeito podemos ter por essa "religião"?
    Nesse mundo os mais covardes são aqueles que atacam pelas costas, os indefesos, planejam atentados contra vida, inclusive com esses feitiços de araque. É por isso que essa gente não sai da miséria, vivem ferrados na vida!
    Mas garanto a todos que não é preciso temer. Quem faz o bem, tem o poder do bem em seu redor como uma redoma o protegendo. Eu também não tenho medo, o mal que tenha medo de mim e recue.
    Não é nada fácil, mas precisamos tomar folego e cair de pau pra acabar de vez com esses sacrifícios e exigindo uma pena pesada, provando que isso não é religião, é uma seita do mal.

    ResponderExcluir
  4. Não dá nem para comentar. O único recurso que me ocorre começando a ler é parar e chorar!!!!!!!!! Tristeza enorme!!!!!!

    ResponderExcluir
  5. A grande maioria da humanidade não vai ser reaproveitada após a regeneração do planeta (se houver uma) pois ainda estão muito atrasados espiritualmente. Paulo Maia e Lucia Estrela, que a luz dos anjos estejam sempre com vocês.

    ResponderExcluir
  6. A esquizofrenia desses malditos é tão grande que ignoram o seguinte fato: como uma pessoa pode crer, que desejando ou fazendo mal a outro, vão lhe acontecer coisas boas??? Enigma a ser decifrado. Pena que Alan Turing é já falecido. O único com essa capacidade.

    ResponderExcluir
  7. Moro proximo a um centro de candoble. é uma sofrencia só. domingo de manha chega galinhas dentro de um saco arrastadas pra dentro da casda. gritam choram sei lá.
    durante a semana começa o suplicio delas. morre 1 morre 2 morre 3 e aí vai a semana toda. como elas gritam. como sofrem
    que deus as receba

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Moraes, manda pelo meu e-mail falabicho@falabicho.org.br o endereço do tal local?

      Excluir

Agradecemos seu comentário, porém, não publicaremos palavrões ou ofensas.
Os comentários não representam a opinião do portal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

EM DESTAQUE


RECEBA NOSSOS BOLETINS DIÁRIOS

Licença Creative Commons

"O GRITO DO BICHO"

é licenciado sob uma Licença

Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Não a obras derivadas

 

SAIBA MAIS


Copyright 2007 © Fala Bicho

▪ All rights reserved ▪