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O boto-cor-de-rosa é um dos mais icônicos e folclóricos animais da Amazônia. Mesmo protegido pela legislação brasileira, uma nova atividade tem pressionado suas populações na região: assim como os jacarés, ele tem sido caçado ilegalmente para servir de isca na pesca de um bagre conhecido como piracatinga. O fato tem causado preocupação em pesquisadores e entidades não governamentais, que pedem mais
esforços na proteção do bicho, endêmico dos rios amazônicos.
A piracatinga (Calophysus macropterus) é uma espécie de peixe que se alimenta de carniça e gordura. De forma geral, os jacarés são os animais mais utilizados como isca, devido ao seu grande número e à facilidade de encontrá-los na região. Porém, são os botos as iscas mais valorizadas pelos pescadores.
“O boto-cor-de-rosa possui uma carne com alto teor de gordura e, por isso, é mais atrativo para a piracatinga, além de ele ser um animal dócil, sociável e fácil de capturar”, explica o ecólogo Joné César, diretor executivo da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa), que coordena e apoia pesquisas científicas para preservação dos mamíferos aquáticos da Amazônia, como o boto. “A pesca da piracatinga está promovendo uma verdadeira matança de botos na Amazônia e ameaçando as populações do animal.”
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reconhece a dificuldade de fiscalizar a região e de flagrar os crimes no momento em que acontecem. “A Amazônia é muito extensa, a locomoção é feita principalmente pelos rios, e temos grande dificuldade para fiscalizar mais de um milhão de quilômetros quadrados em que essa atividade pode estar ocorrendo”, pondera Luciano Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama. “Por isso, é muito importante contar com o apoio da população, na forma de denúncias, mas isso não ocorre com frequência.”
Contornando o problema
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Nesse ínterim, a ideia é que organizações ambientais trabalhem conjuntamente com o Ministério do Meio Ambiente na busca de outras opções para a pesca da piracatinga. “Um dos maiores problemas é operacional, é muito fácil matar o boto”, ressalta César. “Por isso, uma ideia é desenvolver iscas alternativas e de fácil acesso, como vísceras de outros animais e restos industriais não utilizados de peixes.”
A previsão é de que o foco da fiscalização no período da moratória sejam os frigoríficos. “Nosso pessoal no Ibama já está mapeando todas essas instalações e, se alguém vender ou transportar piracatinga a partir de janeiro deste ano, poderá ser preso”, destaca Evaristo. “Inclusive já contatamos as autoridades colombianas, para onde vai a maior parte da piracatinga, para que nos ajudem a combater a prática ilegal.”
Solução?
A medida é importante, mas muitos especialistas alertam que ela não é suficiente para garantir a proteção dos botos amazônicos. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e a Ampa, por exemplo, têm alertado ao longo dos últimos meses que o dano acumulado até o fim de 2014 pode ser praticamente irreversível para as populações do mamífero aquático em determinadas regiões da Amazônia.
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Segundo a pesquisadora, muitas mortes documentadas ou suspeitas atribuídas à atividade de pesca de piracatinga podem ter outras causas. “A moratória não resolverá o problema dos abates por conflitos que existem na área, que ocorrem por muitos motivos, como o medo em relação aos jacarés, a crença de que botos são seres encantados que podem engravidar mulheres e a própria competição entre o boto e o pescador pelos peixes”, explica. “É preciso criar um programa para envolver e educar a comunidade, desenvolvendo estratégias conjuntas de valorização dos recursos naturais.”A pesquisadora também atenta para a renda complementar que a pesca da piracatinga significa para os pescadores. “No período de defeso, algumas espécies de peixes e crustáceos da região ficam protegidas pelo Ibama, ou seja, não podem ser apreendidas, e os pescadores recebem uma assistência financeira; mas a venda de piracatinga, que não é protegida, é uma forma de complementar essa renda”, afirma. “É muito complicado julgar se esse adicional pode
ser dispensado por um comunitário.”
O biólogo Antonio Miguel Migueis, da Universidade Federal do Oeste do Pará, acredita que a moratória é um passo inicial para impedir a mortalidade de botos e jacarés, mas pode não resolver o problema. “A população de botos corre risco sim! Se nada mudar, é possível que, em 2060, a espécie seja extinta”, considera. “Mas os pescadores deveriam ter sido ouvidos sobre os motivos de matarem esses animais, porque é possível que a pesca e a venda da piracatinga continuem acontecendo, de forma mascarada.”
FONTE: CienciaHoje
Ah sim, com certeza vai e disso, não tenho a menor dúvida, porque há uma meia dúzia de pessoas lutando por sua preservação, há inúmeros homens predadores e outros tantos políticos encostados esperando o pior acontecer.
ResponderExcluirAs pessoas neste país gostam de adular os miseráveis - coitadinhos, tão indefesos e bonzinhos. Acontece que são exatamente eles os piores predadores dos indefesos animais. São esses infames que, em nome da "necessidade" perseguem, aprisionam, torturam, mutilam e matam os pobres animais. Esses imprestáveis poderiam ter uma melhor sorte se ajudassem a si mesmos estudando, trabalhando, esforçando-se ao invés de colocar filhos no mundo tão logo deixam as fraldas.
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