Ontem me deparei com uma mensagem do ativista Julio Cesar Gomes, conhecido como Jota Caballero, que atua há bastante tempo na causa animal, desabafando sobre o comportamento inaceitável de certos veganos que tentam se apoderar de lutas iniciadas há muitos anos atrás como se fossem exclusivamente deles. Estas pessoas ditam regras/normas, falam e se comportam como se fossem os únicos capazes de promover o bem para os animais. Fazem um patrulhamento ideológico como se a causa de defesa animal fosse uma instituição hierárquica. Pera lá, calma aí.... Como diz o ditado: chegou agora e estão saindo na porrada para sentar numa janela que foi duramente conquistada? Evidente que estou falando de "certos veganos" e se alguém se sentiu incomodado com meu comentário, reflita por longos dois minutos se não é uma destas criaturas fora da casinha que exclui ao invés de agregar. Convidei, então, o Jota para escrever um texto elucidativo deste comportamento equivocado e que servisse para reflexão do coletivo. Quem sabe uma luz acende? Agora, pra mim, não podia ter sido melhor escrito.
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"O ativismo pelo direito dos animais mergulhado em ditadura"
Estão transformando uma luta tão nobre, talvez a maior, a
luta pelos animais, em pequenos nichos, tutelados pelos mais graduados,
condecorados por patentes que imaginam
possuir, com direito a regras, manipulação de pensamentos coletivos,
sentimentos em linhas de produção e em série, é isso?
A cobrança por comportamentos repetitivos e
radicais acabam por não convencer
ninguém, e sim — cansar. Ou seja, efeito colateral é uma realidade no ativismo
pelo direito dos animais hoje no Brasil. A informação está aí, as ferramentas
para fazê-la também, mas não há inteligência e nem raciocínio lógico, alguns
estão desvirtuando e denegrindo através
de atitudes pra lá de irracionais, completamente impensadas.
Extremismo, assusta e rebela o alvo. Há diferenças brutais
em mostrar algo, para saber que aquilo
existe, e apontar um dedo para acusá-lo, de algo que nem sabia que existia.
Pelo que me lembro, não nasci sabendo e nem escolhendo o que poderiam me
colocar na boca, o que deveria vestir, como deveria me comportar. Isso é pra
lembrar que somos mais vítimas das circunstâncias do que da própria vontade até
determinado ponto. Os mais justos e possuidores de uma consciência mais
aflorada, percebem logo que existe algo de errado, e escolhem o caminho a si tomar. É isso, se não respeitarmos esse
limite do não conhecer, não agregaremos mais pessoas em uma era tão propícia
para alavancar causas e libertar consciências e produzir efeito esperado.
O que vejo hoje é uma transformação em termos de informação
que nunca tivemos, e a pouco tempo, onde, meros quinze, vinte anos atrás, não imaginávamos que
passaríamos por essa chuva meteórica e infinita de informação. Responsável por
isso: internet. Pois é, sabemos hoje
tanta coisa, que nos dão facilmente
status de professor em determinado assunto, se comparado há alguns anos atrás,
onde definitivamente quase nada se sabia, onde era só decorar livros estáticos
e replicar o mesmo.
A causa animal se alavancou com a internet e produz hoje
resultados pra lá de positivos. Nunca se resgatou tanto, salvou, ajudou. Nunca
vídeos de crueldade passaram tanto por globos oculares, causaram reflexão e
despertaram tanta gente. Isso é de fácil percepção. Precisamos ajustar o modo
de atuar e não segregar um assunto tão profundo que é a vida dos animais. Em um
mundo com 90% da população praticamente onívora, ser radical é ser comido
também de garfo e faca, é potencialmente se enfraquecer, é se diminuir. Ainda
não somos nada.
Não temos a receita para o crescimento meteórico de um
exército para causa animal, no qual
necessita-se muito, mas temos a lógica para que isso aconteça, que seria introduzir, e não excluir, que seria
trazê-los e não expulsa-los, digo, os que nem sabem o que é isso — causa
animal.
Por favor não desvirtuem uma causa tão nobre, acusando,
agredindo e se perfazendo como se fossem seres divinos, escolhidos, agraciados,
não! Somos pessoas comuns que despertaram para a mentira sistêmica, para a
violência velada por indústrias, para a covardia que a morfina social nos
injeta e nos faz cometer atrocidades tão cruéis, como a que Hitler cometeu nos
anos 40. É isso.
Um ativista não poder expor pontos de vista pessoal, porque
outro ativista não concorda? É no mínimo curioso. Ativistas não saem de fôrmas de bolo, ativistas são
seres humanos que passam por experiências pessoais desde o estado fetal,
inerentes as suas condições sociais, culturais e religiosas, que derivam para uma visão política ou apolítica do todo, conforme seus processos de percepção.
Reprimir pensamentos alheios, linhas de raciocínio dentro de uma mesma causa,
dá status de ditadura. Não concordar, não dá o direito de afrontar, e sim
debater. Se a causa é a mesma e o objetivo é um só, as diferenças fazem parte do
processo de aceitação e respeitar a adversidade de pensamentos.
Jota Caballero
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