De: Rômulo Caldas Braga
Data: 8 de junho de 2013 10:12
Assunto: PROTETORA IMPEDIDA DE ALIMENTAR GATOS EM SHOPPING DA BARRA
Ontem fui surpreendido por uma cena insólita em meu caminho: três seguranças e um administrador falavam com voz alta para uma senhora e montavam guarda bem de perto para impedi-la de alimentar gatinhos do shopping Citta America na Barra. Como se ela estivesse cometendo crime contra o patrimônio, o alimento foi jogado fora por eles e a pm foi chamada. Uma gatinha menos tímida lambia uma bacia vazia e, frustrada, esperava saciar sua fome com algum resíduo deixado.
O carro da policia e dois policiais que chegaram nos retiveram, pediram identificação, anotaram todos os dados e recomendaram que ela não retornasse ou a levariam à delegacia. Faziam seu trabalho, numa leitura simplista, já que foram solicitados ao local. Os funcionários do shopping, assim pensando, também faziam seu trabalho, recebendo ordens de impedir aquela ação humanitária. Legalmente e inclusive para os órgãos públicos, nada se pode fazer porque a área é privada e eles não são obrigados a manter animais em suas dependências. Parece simples...mas não é.
Sou veterinário, e acompanho a alguma distância o desenrolar dos fatos que ocorrem entre a administração desse shopping e um pequeno grupo de senhoras que tentam por seus próprios esforços, recursos, tempo e persistente trabalho de alimentar, "castrar", tratar e conseguir adoção para a colônia de gatos que vive no local há 4 anos. Elas não os colocaram lá, mas se dispõe voluntariamente a fazer caridade sob chuva ou sol, feriado ou dia-santo, inclusive resolvendo a situação para o próprio shopping. É uma abnegação, um ato de humildade e de entrega, que só por isso deveria ser louvável, mas se torna mártir quando precisa enfrentar constrangimento, assédio moral, brutalidade. Fiquei ali, observando como homens altos e fortes, alguns uniformizados, direcionando seus celulares para filmar a situação, levavam aquela pequena mulher a um vexame público e ainda reclamavam que tinham sido ameaçados por ela, hiperdimensionando uma situação que parecia inacreditável: ela queria alimentar os gatinhos mortos de fome!!
Policiais chamados, numa cidade repleta de violência, crimes e emergências... 6 homens juntos, parados, para conter uma... uma o que? protetora? Deus, como eu admirei essa mulher... Ela é muito mais forte que eu, que eles, que o shopping. Os gatos estão morrendo atropelados, estão famintos, doentes, mas ela não desiste. Ela vai enfrentar assim mesmo, temendo ser presa, intimidação física, moral, psicológica... há 4 anos!
Quem é o shopping que faz encontros de música para seus frequentadores mas distrata pessoas verdadeiramente respeitáveis e admiráveis com valores tão dignos como cuidar de um ser indefeso? Como me relacionar com pessoas que não conseguem negociar uma opção viável numa questão tão local, tão doméstica? É o shopping que vc frequenta, que vc trabalha?? E é você que reclama dos gatos soltos pra administração?! Ou não se posiciona, não fala nada, no máximo passa e olha, mas não vê a fome, o sofrimento e dura vida de quem luta pra viver ao relento.
"O que me preocupa não é o grito dos violentos, é o silencio dos bons". Martin Luther King
Rômulo Caldas Braga
medico veterinário
CRMV-RJ 4623