Eu não acho nada "bonitinho"..... a segurança do animal fica onde? Fiquei sabendo que a Lucia Estrela, da SOS Aves, foi lá, mas, "os camelos não querem que tirem as galinhas" (parece que tem mais de uma)... Pode isto? nojo......
RIO - Anitta teve 11 filhos. Dois morreram. Anitta não se importou. Para onde vai, se faz seguir dos nove que restaram. Anitta é brasileira, nascida no morro, mãe solteira. Dorme num barraco de madeira, sob teto improvisado. Comida não lhe falta; afeto, muito menos. Cisca milho, cisca arroz, cisca paçoca. De dia, batalha. De noite, descansa no lar.
Anitta é metódica: desperta com o galo. O galo é Chicó. Diz-se, de Chicó, que é o marido de Anitta.
Que é o pai dos 11 (agora nove) pintinhos. Que não liga para a amada. Que não liga para a prole.
Anitta é brasileira, é nascida no morro, é mãe solteira. Anitta é uma galinha de rua.
Anitta, Chicó, os nove pintos e um galo agregado (que, por agregado, não tem nome) moram, há pelo menos três meses, num canteiro de terra, na Rua Marquês de Abrantes, em frente à estação de metrô do Flamengo. Primeiro veio o galo. Depois, a galinha. Engravidaram. Tiveram os pintos. Houve uma comoção. Os comerciantes e moradores da área fizeram um ninho e deram-lhe os nomes. Depois disso chegou o agregado.
Reza a lenda que os três descendem das aves de um pai de santo, seu Cardoso. Seu Cardoso morava no Morro Azul, comunidade colada à estação. Deixou o local há um ano, largando, para trás, o farto galinhame que usava em oferendas. Por sagrados — ou, para alguns, amaldiçoados — que eram, os animais sobreviveram intactos (quem faz canja de frango do candomblé?) Procriaram. Anitta, Chicó e o galo agregado, acredita-se, são filhos da segunda geração. Desceram o morro atrás de comida. Atravessaram a Rua Paulo VI. Uma vez nos asfalto, se instalaram.
— Lá em cima é feio — diz o ambulante Glauber Leonardo, vulgo Biro, 37 anos, que vende bala e chocolate em frente à estação. — Os pintinhos nem sabem como chegar lá. Mas a galinha também não volta. Com uma vida boa dessas, vai voltar à dureza para quê?
Filho de uma moradora do Morro Azul, Biro trabalha de segunda-feira a sábado, na porta do metrô (todos os ambulantes têm permissão da prefeitura). Veio de sua lavra o nome Chicó. Já Anitta foi batizada por Nilton César Conceição dos Santos, 38 anos, que vende bolsas há um quarto de século no mesmo local. A alcunha homenageia a maior estrela de todos os tempos da última semana do funk nacional.
Foi Biro quem percebeu, três meses atrás, que Anitta estava prenha. O aviso, por assim dizer, veio em forma de um ovo, depositado, pela ave, aos pés de uma barraca. O ambulante então cavou um buraco num canteiro, encheu-o de jornal e cobriu-o com um caixote de madeira, daqueles de feira, para protegê-lo da chuva. Depois, pegou o ovo, se fez seguir da galinha, e pôs no buraco. A mensagem foi entendida. Anitta fixou residência. Depositou, ali, o restante de seus herdeiros.
— O pessoal ficou me falando para comer os ovos — lembra Biro. — Comer ovo para quê? Deixei ela chocar que era melhor.
No último dia 20, após um período de três semanas em que a ave só deixou o ninho para se alimentar, os ovos quebraram. Biro fotografou-os com o celular, mas preferiu não batizá-los (“Dar nome nos pintinhos todos? São nove!”). Diz que Chicó e o galo agregado acompanharam, de longe, o processo:
— O outro galo tentou perturbá-la no ninho. Pensa que é pai, mas o pai é o Chicó. Ele é no máximo padrasto.
E assim, em família, o galinhame vai vivendo. Desde o parto, Anitta, Chicó, os pintos e o galo agregado levam vida amena, à base de milho, canjica, paçoca, arroz e xerém. Café da manhã é às 7h, horário em que Nilton dos Santos abre sua barraca de bolsas. Aos domingos, mesmo sem trabalho, o ambulante deixa o Morro Azul, onde mora, para alimentá-los.
— Quando chego, eles já estão acordados — conta. — O Chicó come na minha mão. A Anitta é mais arisca.
Por vezes um pedestre passa, para, se espanta, os fotografa.
— Vi de manhã, achei fofo. Fiquei me perguntando quem cuida deles — disse a empresária Lorena Cruz, de 35 anos, com a câmera do telefone apontado para as aves.
Já o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro preferiu descrevê-los no Facebook: “No pátio de acesso à estação Flamengo do metrô cisca animada toda uma família de galináceos. Uma senhora me explica: ‘Eles eram de um pai de santo que morava ali (no Morro Azul, atrás da estação). Ele criava cabra, porco, galinha. O pessoal tem medo de pegar, o senhor sabe... Por isso ficam aí...’”
Mas nem tudo são rosas na vida dos animais. A mãe já precisou gralhar contra um gavião interessado em jantar sua prole. Na semana passada, o arrimo teve as penas da cauda arrancadas, enquanto dormia, sereno, na calada da noite.
— Deve ter sido para fazer brinco — acredita Biro. — O Chicó estava com a cauda bonita: preta, branca e dourada.
O pormenor mais grave — e público —, no entanto, ocorreu quatro meses atrás. No dia 22 de maio, Anitta adentrou a estação de metrô, desceu as escadas (não se sabe se por terra ou por ar) e terminou seu trajeto nos trilhos do trem. Um agente acompanhou o feito da sala de controle. Outros dois desceram para tirar o bicho de lá. A cena, gravada pelo publicitário Fred Marques, foi publicada no site G1, com um descrição: “Uma galinha deu olé nos esforçados funcionários que tentavam tirá-la dos trilhos.” O MetrôRio respondeu, na ocasião, que “o incidente com o animal, ocorrido por volta das 21h15m, não causou impacto no sistema, já que os trilhos foram desenergizados por poucos minutos e coincidiu com o intervalo entre as composições.”
Depois disso, Anitta voltou ao ninho, teve os pintos, amainou-se. Moradora do Flamengo, a aposentada Eliane Coelho, de 62 anos, passa pelo canteiro todo dia, para ver como a galinha está.
—Ela é melhor que muita mãe que tem aí. Quando um pintinho fica para trás, para e volta para resgatá-lo — explica
Ela faz um apelo:
— A prefeitura não pode levá-la. Anitta já faz parte do bairro. Se vier, eu desço antes e levo para a minha casa em Itaboraí
Fonte: EXTRA
Aqueles hipócritas só ainda não os comeram por serem herança do candomblé. Fingem que gostam dos bichinhos, mas se gostassem mesmo, os levariam para um local seguro e os alimentariam adequadamente.
ResponderExcluirAlguém deveria leva-los de lá, antes que algum mal aconteça a eles.
ResponderExcluirusa-se a expressão prenhes e parto também para aves?
ResponderExcluir- Local Inapropriado..
ResponderExcluir