Apesar de o Tribunal Regional Federal da 3ª Região ter autorizado o tratamento da leishmaniose visceral em cães de todo o país, o Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza vai continuar a sacrificar os animais que forem diagnosticados com a doença. A recomendação do Ministério da Saúde em não aceitar o uso de medicamentos, porém, tem gerado discussões entre veterinário e associações de proteção a animais.
Ao todo, 2.456 animais com calazar positiva (quando é
identificada e constatada) foram sacrificados em 2012, resultando em uma média por mês de 204,6 sacrifícios em Fortaleza.
O doutor Sérgio Franco, responsável pelo setor de combate à Leishmaniose do Centro de Zoonoses, explica que o órgão obedece ao que é preconizado pelo ministério, que é contra o tratamento de cães com remédios. Ele esclarece, primeiramente, que não há nenhuma medicação específica para cães que tenha a efetividade comprovada.
“O ministério não quer essa dúvida e a utilização de remédios humanos em cães, como prevê a decisão judicial, pode provocar resistência e tornar o tratamento da doença, inclusive em humanos, algo mais difícil ainda”, afirma Franco, ao lembrar que a doença não tem cura e, por isso, o tratamento canino tem que ser sempre mantido. “É como se fosse diabetes, ou seja, o tratamento nunca pode ser interrompido”, acrescenta.
Opiniões
Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Ceará (CRMV-CE) não quis se pronunciar sobre o caso, pois ainda está estudando o caso. De acordo com o presidente, José Filho, o conselho cumpre a ordem judicial e segue as recomendações do conselho federal da classe, que considera que o sacrifício deve ser realizado. “Se houver alguma denúncia de médico veterinário tratando animal, a gente tem que avaliar, mas ele vai estar sujeito ao processo ético do conselho federal”, explicou.
A favor do tratamento
O veterinário Ricardo Henz considera que o tratamento de animais com a doença é uma é uma alternativa. “O Ministério da Saúde aponta que, em 12 anos, 2.600 pessoas morreram de calazar. Esse dado é usado como terrorismo”, considera.
Para Henz, a política utilizada pelo ministério atesta sua incompetência. “A política de controle do calazar, que existe há 12 anos, está dando errado. A cada dia morre mais gente. E continua-se matando a vítima [o animal] e deixando o bandido solto [o inseto]”, ressalta. Henz ainda afirmou que na Europa os animais são tratados e a doença está controlada.
Ele ainda explicou que, há 15 anos, a doença era restrita ao Nordeste, mas acabou se espalhando pelo resto do país. Por isso, o governo deveria, segundo o veterinário, traçar três ações: a primeira seria a de combate ao mosquito transmissor; a segunda a de educação sanitária e a última a de eliminação de cães que não possam ser tratados. “Só o veterinário pode determinar qual animal pode ser tratado. Tem cães que são falso positivos, que nem a doença têm, e são sacrificados”, afirma.
Remédio para humanos e animais
O Ministério da Saúde reafirma, por meio de nota, que os medicamentos utilizados para tratar a leishmaniose visceral humana não podem ser usados para a leishmaniose visceral canina. “Embora a medicação, em uso animal, possa resultar no desaparecimento dos sinais clínicos, os cães continuam como fontes de infecção para o vetor, representando um risco para saúde da população humana e canina. Essa prática pode tornar o parasita causador da doença resistente às drogas atualmente disponíveis”, constata.
Confira a tabela com o número de animais sacrificados durante o ano em Fortaleza:
*Dados do Centro de Controle de Zoonoses de Fortaleza
Mês de 2012
Número de animais sacrificados
Janeiro
356
Fevereiro
287
Março
274
Abril
201
Maio
237
Junho
143
Julho
99
Agosto
198
Setembro
163
Outubro
211
Novembro
89
Dezembro
198
Total
2456
Fonte: Jangadeiro On Line