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12/07/2017

Terapia com animais virou febre, mas quem disse que funciona?

Esta matéria está excelente. Nela podemos avaliar o quanto a ciência (que exige comprovação de tudo) usa antolhos, pois, é visível para qualquer um o quanto animais são capazes de modificar nosso emocional.... Pesquisadores querem contestar o que está na cara deles!!!!! muito doido isto.....
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Uma febre de animais de terapia tomou conta dos Estados Unidos. O aeroporto de San Francisco hoje conta com um porco para acalmar passageiros estressados.

Universidades em todo o país trazem cachorros (e um burro) ao campus para tranquilizar os estudantes na época dos exames finais. Lhamas confortam pacientes de hospitais, cachorros dão apoio moral em locais de desastres e cavalos são utilizados para tratar a compulsão por sexo.

E aquele pato no avião? Pode ser um animal prescrito por um profissional de saúde mental para oferecer apoio emocional a um passageiro.

A tendência, que ganhou ímpeto há algumas décadas, se baseia na ideia amplamente difundida de que a interação com animais pode reduzir o sofrimento psicológico, quer essa interação se dê por meio de afagos rápidos em um aeroporto ou de um relacionamento de longo prazo em casa. É certo que os grupos que oferecem pets pensam isso, assim como alguns profissionais de saúde mental. Mas a adesão popular aos pets como se fossem terapeutas peludos vem gerando desconforto crescente entre alguns pesquisadores do campo, para os quais a ideia já se adiantou muito às evidências científicas.

A introdução a uma série de artigos sobre "intervenções assistidas por animais" publicada neste ano no "Journal of Applied Developmental Science" (revista de desenvolvimento de ciência aplicada) destaca que as pesquisas sobre a eficácia dessas intervenções "ainda se encontram em seus primórdios". Uma revisão recente da literatura especializada sobre o assunto realizada por Molly Crossman, doutoranda de Yale que concluiu há pouco um estudo envolvendo um cão de oito anos de idade chamado Pardner, citou um "conjunto obscuro de evidências" que em alguns casos demonstrou efeitos de curto prazo positivos, em muitos casos não constatou efeito algum e ocasionalmente identificou níveis de sofrimento mais altos.

Ao todo, escreveu Crossman, os animais parecem ser úteis de maneira "pequena a média", mas não está claro se eles merecem o crédito ou se existe algum outro fator em jogo.

"É um campo que foi avançando, de certo modo, pelas convicções de praticantes" que viram a saúde mental de pacientes melhorar depois de adotarem ou trabalharem com animais, disse James Serpell, diretor do Centro para a Interação entre Animais e Sociedade da Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Pensilvânia. "Esse tipo de coisa é o que vem dando o impulso no campo, enquanto as pesquisas estão tentando recuperar o atraso em relação ao que está sendo praticado. Em outras palavras, as pessoas estão reconhecendo que não bastam relatos de casos pontuais."

VELHOS AMIGOS 
O uso de animais em contextos de saúde mental não constitui novidade. No século 17, um retiro administrado por quacres na Inglaterra incentivava pacientes doentes mentais a interagir com animais em seus recintos. Sigmund Freud frequentemente incluía cães em sessões psicanalíticas. Mas o tema não virou alvo de pesquisas até que, na década de 1960, o psicólogo pediátrico americano Boris Levinson começou a escrever sobre o efeito positivo que seu cão Jingles exercia sobre seus pacientes.

Contudo, as evidências disponíveis hoje são problemáticas, segundo a revisão conduzida por Crossman e outras anteriores. Crossman escreveu que a maioria dos estudos foi feita com amostragens pequenas e que "uma parcela alarmante" não levou em conta outras razões possíveis de uma mudança no nível de estresse, como, por exemplo, a interação com o cuidador humano do animal. Ela notou que os estudos também tendem a fazer generalizações abrangendo várias espécies animais: se os participantes são mensuravelmente tranquilizados por um cão da raça golden retriever, isso não significa que outro cão ou outra espécie animal vá evocar a mesma reação.

Terapia com animais 
Mesmo assim, as manchetes publicadas na mídia muitas vezes tratam do incremento de felicidade. Hal Herzog, psicólogo da Western Carolina University e estudioso há anos das interações entre humanos e animais, se recorda de um estudo conduzido em 2015 sobre os benefícios que um cão de estimação teria para a saúde das crianças. "Eis uma razão para obter um cachorrinho", anunciou a NBC: "crianças com pets apresentam menos ansiedade".

Não foi isso que o estudo concluiu, na realidade. Os autores de fato constataram que as crianças que possuem cães têm ansiedade mais baixa que as crianças sem cães. Mas eles avisaram que "este estudo não especifica se os cães de estimação exercem efeitos diretos sobre a saúde mental das crianças ou se outros fatores associados à aquisição de um cão de estimação beneficiam a saúde mental das crianças."

Foi um caso clássico de associação entre correlação e causa, algo que Herzog afirma ser comum. Escolher resultados positivos a dedo é outro problema, algo que ele afirma que acontece em materiais promocionais da Iniciativa de Pesquisas sobre o Vínculo entre Humanos e Animais (ou Habri, a sigla em inglês). Essa organização, patrocinada pela indústria de produtos para pets, financia pesquisas sobre o tema.

"Fico maluco quando vejo quantos artigos científicos começam dizendo 'é fato amplamente constatado que possuir animais de estimação traz benefícios à saúde'", comentou Herzog. "Sim, existe uma literatura especializada que defende isso. Mas também existe literatura especializada que não identifica esse resultado."

O diretor executivo da Habri, Steven Feldman, adota postura mais positiva em relação aos estudos científicos, apesar de reconhecer que é preciso pesquisar mais. "Assim como consumir vegetais e praticar exercícios físicos, eu diria que ter animais em nossa vida é um elemento essencial ao bem-estar e à saúde humana", ele disse.

Para muitos amantes dos animais e pessoas que possuem bichos de estimação, essa discussão pode soar intelectual demais. Existe algo de intuitivo nos sentimentos positivos que os animais nos transmitem. Para que analisar tudo tão a fundo?

Ian Beck não discorda. Ele, que dirige o Centro de Internação entre Humanos e Animais da Purdue University, cita uma teoria comum.

"Ao longo da história, os animais sempre nos confortaram. Se isso funciona para você e para mim em um ambiente relativamente normal, talvez exerça um papel especial para alguém que está com depressão e transtorno de estresse. Isso simplesmente faz sentido", ele disse. "A literatura especializada mostra que o contato com pets não é negativo. E isso é igualmente importante."

INVEJA DA FÍSICA 
Beck disse ainda que dar atenção excessiva à confirmação científica pode parecer uma espécie de "inveja da física", "em que você procura quantificar tudo, sem apreciar".

Mas há muitos argumentos convincentes em favor de pesquisas rigorosas sobre animais e saúde mental humana. Em 2012, o Departamento de Assuntos de Veteranos disse que não cobriria os custos de cães de serviço para veteranos com transtorno de estresse pós-traumático, citando "a falta de evidências que fundamentem a eficácia dos cães de serviço no tratamento da saúde mental". Hoje o departamento está no meio de um estudo sobre o tema que durará vários anos e que pode levar o governo a fornecer verbas para esses cães.

Outra razão, dizem os cientistas, é pelo bem dos animais. Molly Crossman chamou a atenção para um incidente ocorrido na Washington University em 2014, um caso de terapia com animais que deu errado. Um filhote de urso levado ao campus na semana dos exames finais mordiscou alguns estudantes, espalhando o medo de um possível surto de raiva, algo que quase levou o animal a ser sacrificado. De maneira mais geral, disse Serpell, a ideia popular de que os pets nos deixam mais felizes "não é uma distorção inofensiva. (...) Se o público pensa que conseguir um animal vai lhe fazer bem, em muitos casos uma pessoa que não é apropriada vai ganhar um animal não apropriado para ela. Nesse caso, não será bom para nenhum dos dois."

As pesquisas estão ganhando força, em parte porque as verbas para elas vêm aumentando, fornecidas tanto pela Habri quanto por uma parceria público-privada entre os Institutos Nacionais de Saúde e o Centro Waltham de Nutrição de Pets. O estudo recente de Molly Crossman no Laboratório de Interações Inovadoras de Yale foi um dos trabalhos que estava sendo patrocinado.

O estudo utilizou não apenas o cão labrador Pardner, mas sete outros cães de terapia certificados como tais. Várias vezes ao mês, durante boa parte do ano passado, eles foram levados à universidade para passar sessões de 15 minutos com crianças que haviam acabado de concluir duas tarefas estressantes: inventar histórias espontaneamente e contá-las a desconhecidos, e, em seguida, solucionar problemas de matemática.

Os desconhecidos em questão eram os pesquisadores, e sua missão era avaliar se as crianças, com idades entre 10 e 13 anos, achariam terapêuticos os momentos passados com os cães. O estudo foi pensado para evitar alguns dos problemas identificados por Crossman em outros estudos. Por essa razão, algumas das 78 crianças participantes só puderam brincar com um cobertor felpudo –porque é fato sabido que estímulos táteis reduzem o estresse – e outras ficaram simplesmente esperando por 15 minutos.

"Sem os controles, as modificações observadas poderiam ser devidas a fatores diversos, como o fato de que bastante tempo se passara", disse Crossman. "As crianças na realidade são boas em lidar com estresse."

As crianças completaram questionários para avaliar seu estado de ânimo e sua ansiedade antes e depois. Amostras de sua saliva foram colhidas em três momentos, para medir seu nível de cortisol, o chamado hormônio do estresse. Ao final, todas as crianças ganharam um certificado de "cientista júnior", foram elogiadas e puderam brincar livremente com os cachorros.

Crossman, que enfatiza o fato de ser amante de animais, se negou a revelar as conclusões do estudo antes de serem publicados. Mas falou que espera que eles mostrem que os cães podem afetar o estresse de crianças. Em seguida, porém, ela se apressou a fazer um esclarecimento de cientista.

"Digo que espero não apenas por achar ou esperar que funcione, mas porque esses programas são tão amplamente utilizados", ela explicou. "As crianças já participam disso em escala imensa. Idealmente, a ordem seria a inversa: primeiro testamos a ideia e depois a implementamos." 

FONTE: folha.uol

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