A gente tem que abaixar a cabeça diante das artimanhas que os animais inventam na luta de sobrevivência... Genial!!!!
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Semelhança acústica entre animais diferentes pode ser estratégia contra predadores
“Será que os jacus estão imitando os porcos?”, perguntou a bióloga Cibele Biondo, da Universidade Federal do ABC (UFABC) durante uma conversa com Fábio Raposo do Amaral em que se discutia a semelhança entre o som dos estalos de bico das aves do gênero Neomorphus (os jacus) e aquele produzido quando porcos selvagens (catetos ou queixadas) batem os dentes. Era uma especulação informada por conhecimento – Cibele é especialista em porcos e Amaral, em aves. “É uma hipótese difícil de testar, mas acabou atraindo atenção e foi publicada em um dos principais periódicos de ornitologia”, conta ele, que é professor no campus de Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O artigo está no site da revista Journal of Avian Biology desde o dia 29 de junho.
O assunto veio à tona a partir do relato do ornitólogo Vítor Piacentini, pesquisador associado da Universidade Drexel, nos Estados Unidos, sobre experiências próprias e de colegas em expedições à Amazônia. Os habitantes da região que trabalham como mateiros para os pesquisadores em viagem de campo costumam contar que o jacu-bagunceiro anda muito com os porcos. É um dos nomes populares dessa ave que, apesar de ter uma distribuição muito ampla nas florestas sul-americanas, é rara e difícil de se enxergar. A semelhança com os sons produzidos por esses mamíferos já era conhecida e também rendeu às aves os nomes populares de jacu-porco ou jacu-queixada.
Mas os biólogos foram além. Analisaram componentes da vocalização desses animais e compararam, com testes estatísticos, ao som produzido pela ave mais aparentada aos Neomorphus: trata-se do gênero Geococcyx, das Américas Central e do Norte, o papa-léguas do desenho animado. Os resultados reiteram a ideia de Cibele e indicam que a semelhança geográfica é maior do que aquela associada ao parentesco.
As hipóteses para o que o grupo qualificou como mimetismo acústico – uma imitação de sons que pode ter uma função ecológica – envolvem a tentativa de assustar predadores (os porcos são mais ameaçadores do que as aves), a comunicação entre as duas espécies no sentido de alarme ou uma tentativa de manipulação do comportamento dos porcos pelas aves. Testar essas possibilidades é difícil, porém não impossível. “Teríamos que montar experimentos no mato em que usaríamos os sons para verificar a reação dos animais”, sugere Amaral. A ideia está lançada. Agora falta aparecer algum biólogo com disposição para encarar esse trabalho.
Projeto
Filogeografia multilocus comparada de três espécies de Poospiza (Aves, Passeriformes): explorando a história da Mata Atlântica montana (nº 11/50143-7); Modalidade Jovem Pesquisador; Pesquisador responsável Fábio Sarubbi Raposo do Amaral (Unifesp); Investimento R$ 511.861,42.
“Será que os jacus estão imitando os porcos?”, perguntou a bióloga Cibele Biondo, da Universidade Federal do ABC (UFABC) durante uma conversa com Fábio Raposo do Amaral em que se discutia a semelhança entre o som dos estalos de bico das aves do gênero Neomorphus (os jacus) e aquele produzido quando porcos selvagens (catetos ou queixadas) batem os dentes. Era uma especulação informada por conhecimento – Cibele é especialista em porcos e Amaral, em aves. “É uma hipótese difícil de testar, mas acabou atraindo atenção e foi publicada em um dos principais periódicos de ornitologia”, conta ele, que é professor no campus de Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O artigo está no site da revista Journal of Avian Biology desde o dia 29 de junho.
O assunto veio à tona a partir do relato do ornitólogo Vítor Piacentini, pesquisador associado da Universidade Drexel, nos Estados Unidos, sobre experiências próprias e de colegas em expedições à Amazônia. Os habitantes da região que trabalham como mateiros para os pesquisadores em viagem de campo costumam contar que o jacu-bagunceiro anda muito com os porcos. É um dos nomes populares dessa ave que, apesar de ter uma distribuição muito ampla nas florestas sul-americanas, é rara e difícil de se enxergar. A semelhança com os sons produzidos por esses mamíferos já era conhecida e também rendeu às aves os nomes populares de jacu-porco ou jacu-queixada.
Mas os biólogos foram além. Analisaram componentes da vocalização desses animais e compararam, com testes estatísticos, ao som produzido pela ave mais aparentada aos Neomorphus: trata-se do gênero Geococcyx, das Américas Central e do Norte, o papa-léguas do desenho animado. Os resultados reiteram a ideia de Cibele e indicam que a semelhança geográfica é maior do que aquela associada ao parentesco.
As hipóteses para o que o grupo qualificou como mimetismo acústico – uma imitação de sons que pode ter uma função ecológica – envolvem a tentativa de assustar predadores (os porcos são mais ameaçadores do que as aves), a comunicação entre as duas espécies no sentido de alarme ou uma tentativa de manipulação do comportamento dos porcos pelas aves. Testar essas possibilidades é difícil, porém não impossível. “Teríamos que montar experimentos no mato em que usaríamos os sons para verificar a reação dos animais”, sugere Amaral. A ideia está lançada. Agora falta aparecer algum biólogo com disposição para encarar esse trabalho.
Projeto
Filogeografia multilocus comparada de três espécies de Poospiza (Aves, Passeriformes): explorando a história da Mata Atlântica montana (nº 11/50143-7); Modalidade Jovem Pesquisador; Pesquisador responsável Fábio Sarubbi Raposo do Amaral (Unifesp); Investimento R$ 511.861,42.
FONTE: revistapesquisa