18/12/2017

'É um erro trazer novos seres humanos ao mundo': o polêmico pensamento antirreprodução do filósofo David Benatar

Olha, o destino dos animais está ligado ao excesso de população humana. O artigo me pareceu adequado para pensarmos em muita coisa.... IMPERDÍVEL!!!!
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Autor de livro chamado, em tradução livre, 'Melhor nunca ter existido', ele defende suspender procriação até que humanidade seja extinta. Um dos motivos principais: a vida é cheia de dor e sofrimento.


David Benatar diz que poderia ser considerado "o filósofo mais pessimista do mundo" por sua convicção de que a vida é terrível e não vale a pena ser vivida.

Em seu livro Better Never to Have Been ( Melhor nunca ter existido , em tradução livre), o diretor do departamento de Filosofia da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, assegura que nascer é uma profunda desgraça.

Por isso, para Benatar, que tem 51 anos, a humanidade deveria parar de procriar até que todos os seres humanos sejam extintos da Terra.

A BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, conversou com o filósofo para entender em que se baseia a teoria de um dos maiores expoentes da corrente conhecida como "antinatalismo" - e para tentar saber como ele aplica os conceitos na própria vida.

BBC - Você pode por favor explicar o que a corrente conhecida como 'antinatalismo' defende?
David Benatar - O antinatalismo defende que não deveriam nascer novas pessoas no mundo.

BBC - Por que não?
David Benatar - Há várias razões, para mim. Uma delas é que nós não deveríamos dar vida para pessoas que no futuro vão enfrentar sofrimento. Há muitos argumentos a respeito, mas um deles é que há muita dor e sofrimento na existência humana. Por isso que é um horror trazer novos seres humanos ao mundo.

BBC - Mas também há coisas boas na vida…
David Benatar - Sim, também há coisas boas. Mas a questão é se essas coisas boas valem a pena ante a dor das coisas ruins. Me parece que com frequência as pessoas esquecem o quão ruins são as coisas ruins da vida.
Há numerosas evidências psicológicas de que a gente superestima a qualidade de vida, pensa que é melhor do que na verdade é. Outro erro frequente é pensar no futuro e não se dar conta da quantidade de sofrimento que muito provavelmente as pessoas terão no fim de suas vidas.
Pense em como as pessoas morrem, pense no câncer, nas enfermidades infecciosas, nas doenças. Há muito sofrimento ao final da vida, muito. E muitas pessoas se esquecem disso.

BBC - Mas se você estiver certo e efetivamente a vida for tão terrível, as pessoas deveriam sempre recorrer ao suicídio, não?
David Benatar - Sim, mas o suicídio, em primeiro lugar, tem um custo que você evitaria se não chegasse a nascer. Se uma pessoa não nascesse, se nunca existisse, evitaria passar por coisas ruins da vida.
O suicídio pode ser o menor dos males, mas segue sendo um mal. Mas mesmo que algo esteja mal, a pessoa segue querendo não morrer, a maioria continua com sua existência. Outro custo do suicídio é que ele gera dor e sofrimento nas pessoas que gostam de você.


BBC - Mas a reprodução é algo natural para o ser humano. O antinatalismo não é portanto antinatural?
David Benatar - Nem tudo que é natural é bom. Ficar doente, por exemplo, é algo completamente natural. Mas, mesmo sendo natural, as pessoas são aconselhadas a se tratar com remédios ou realizar cirurgias.
A agressão também é uma forma de expressão natural entre os seres humanos e outros animais, mas não parece uma coisa boa ceder a ela ou a outros tipos de impulsos naturais.
O que é natural e o que é moral ou eticamente desejável e recomendável são coisas diferentes.

BBC - Então, para você, o aborto é algo ética ou moralmente defensável?
David Benatar - Sim, naturalmente. O antinatalismo defende que é um horror trazer novas pessoas ao mundo, e o aborto é um dos meios para evitar isso.

BBC - Nós, seres humanos, não somos os únicos a sofrer, muitos animais levam vidas muito difíceis. O que fazemos com eles? Nós devemos exterminá-los para salvá-los da dor da experiência?
David Benatar - Há uma enorme diferença entre exterminar e se extinguir por morte natural. Exterminar seria matar, e não sou a favor de matar seres humanos nem animais. Talvez existam algumas raras exceções e cenários que poderíamos considerar.
Mas, no geral, não apoio que se mate pessoas ou animais. Mas sou a favor da extinção, e um dos modos de fazer isso seria não dar vida a novos seres.
No caso dos animais, há muitos que vivem em liberdade, que não são criados por seres humanos. Mas há muitos que são, como aqueles criados em granjas - que mantemos para matarmos depois e comer. A respeito deles, nós estamos provocando um sofrimento indizível, acho que não deveríamos criá-los. Nós podemos nos alimentar perfeitamente sem eles.

BBC - No lugar de extinguir a raça humana e de deixar de trazer novos filhos ao mundo, não poderíamos melhorar o mundo para que a vida seja menos dura?
David Benatar - Bom, eu creio que sempre estamos melhorando o mundo e que nós, que existimos, deveríamos sempre fazer de tudo para melhorá-lo.
Mas é excessivamente otimista pensar que vamos melhorar o mundo até o ponto de eliminar o sofrimento e que nossos filhos estarão livres de sentir a dor implícita à vida. Seria algo tão distante no futuro que implicaria muitas gerações, gerações que iriam sofrer a dor de terem sido trazidas a este mundo.
E sacrificar gerações em nome do futuro me parece algo indecente.


BBC - Sendo a vida tão terrível, por que você acredita que as pessoas decidem ter filhos?
David Benatar - Não sei. Muitas pessoas não sabem o que significa ter filhos, simplesmente os têm. A metade das crianças do mundo não são desejadas.
Há sim pessoas que pensam no assunto. Mas na maioria dos casos, os motivos que elas dão para ter filhos são baseados em seu próprio interesse: porque querem que seus genes passem para alguém, porque querem experimentar ter e criar um filho. Há quem inclusive fale em altruísmo: querem filhos pensando na comunidade, em satisfazerem o desejo dos pais de terem netos.
Mas, na maioria dos casos, creio que as pessoas simplesmente não se perguntam o que verdadeiramente significa ter um filho.
E não se perguntam porque é algo tão comum, tão natural, que acham normal a necessidade de gerar filhos. Poucas pessoas se questionam sobre as questões éticas de se trazer um ser humano ao mundo.

BBC - Mas se pegarmos por exemplo o caso de uma criança que acaba de nascer e que vá ter uma vida boa, plena e feliz. Não seria imoral privá-la dessa boa vida?
David Benatar - Bom, essa criança poderá ser feliz em alguns momentos específicos, isso não se discute. Mas quando de traz uma criança ao mundo não, ela não é gerada apenas para esses momentos felizes. Essa criança também vai envelhecer, ficará doente, vai morrer no futuro. Temos que pensar em sua vida por completo, e não apenas nos momentos agradáveis que viverá.
Pense: os bebês são infelizes muitas vezes, é só você ver quando eles estão chorando. Há muitas decepções e frustrações que eles têm de enfrentar.
Mas inclusive se falarmos de uma criança genuinamente feliz, poderia ser um caso do que se chama de "preferências adaptativas" (preferências geradas em circunstâncias de restrição de oportunidades).
Pensemos, por exemplo, em um grupo de pessoas que educa outras para sejam seus escravos. Essas pessoas escravizadas então poderiam ficar com contentes e não se importar com sua condição de escravidão, porque elas foram criadas para pensar dessa forma.
Pois bem: eu seria contra a ideia, mesmo que as pessoas se sintam felizes.


BBC - Os pais, segundo seu raciocínio, são responsáveis pelo sofrimento de seus filhos venham a sofrer por terem decidido trazê-los ao mundo. Eles também são responsáveis pelo sofrimento dos filhos de seus filhos e de seus bisnetos, e assim sucessivamente?
David Benatar - De certa forma, sim, indiretamente. Não que tenham responsabilidade completa - ela só pode ser atribuída a quem teve seus próprios filhos. Mas quando alguém decide se reproduzir, deve saber que está criando outros potenciais reprodutores. E, se alguém pensa em todas as gerações, que seguem uma decisão reprodutiva, ele percebe a grande responsabilidade que isso (ter filhos) implica.

BBC - Você acredita que sua ideia de parar a reprodução para que a humanidade seja extinta poderá ter êxito um dia?
David Benatar - Não, não creio, ao menos em grande escala. Eu acho que haverá alguns indivíduos que vão decidir não procriar, conheço alguns deles. Por isso considero que o antinatalismo pode ter êxito em pequena escala. Mas acho que mesmo assim é importante, porque muita gente será poupada do sofrimento por não ter vindo ao mundo.
Não sou um ingênuo, não creio que minhas ideias convençam o mundo todo. Mas acredito fortemente que o que digo é verdade. Gostaria que as pessoas pensassem melhor sobre o que significa ter filhos.


BBC - Quando você decidiu abraçar o antinatalismo?
David Benatar - Sempre pensei de maneira parecida, mas desenvolvi essas ideias ao longo dos anos. A ideia básica para mim é óbvia, mas não sei se para os outros também é.

BBC - Você lamenta estar vivo?
David Benatar - Não gosto de responder perguntas pessoais. Prefiro falar sobre conceitos e ideias.

BBC - Você censura seus pais por te trazer ao mundo?
David Benatar - Talvez você queira olhar a dedicatória de meu livro.

BBC - Sim, eu li. Está escrito: 'A meus pais, apesar de terem me dado a vida'.
David Benatar - Então você já sabe. Não tenho mais nada a dizer a respeito.

BBC - Última pergunta: você tem filho?
David Benatar - Essa é outra pergunta pessoal.

FONTE: Terra

9 comentários:

  1. Acho interessante e partilho da mesma opinião. A Terra não suporta mais tanta gente. - Enedina

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  2. Penso assim desde que existo, mas nunca soube de alguém que pensasse o mesmo.

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  3. Concordo,tanto é que não tenho filhos,só os meus adotados de pelos.

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  4. Também escolhi não ter filhos mas não por esses motivos.
    O sofrimento para nós seres humanos é fonte de aprendizado, só valorizamos as coisas boas quando conhecemos as coisas ruins, a Felicidade pode estar no momento presente mas nunca será um estado permanente.
    Quanto aos animais e ao planeta, indiscutivelmente essa é um reflexão necessária e, para a nossa própria espécie, uma estratégia de sobrevivência.

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  5. Pior que o grande número de pessoas é o enorme número de pessoas inúteis.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Postei esse artigo em meu blog, e no final fiz minhas considerações, que são: Muita coisa defendida por David Benatar em seu antinatalismo, eu não concordo... mas é evidente, que em um sentido geral, o planeta (como um todo) já demonstra o quanto somos prejudiciais a ele. Falamos a todo momento de pragas urbanas ou rurais, e no entanto não nos vemos como uma... e o pior é que somos. É preciso sim, um grande controle de natalidade, haja vista pelo tanto que destruímos, para impor o nosso modo de vida... com isso ar, água, solo, fauna e flora se vão. É preciso sim, que algo seja feito, mas usando de qual procedimento para isso? Essa é a questão... pois se usarmos métodos errados, tipo a imposição de alguma lei que determine isso, ou até coisa pior, estaremos justamente concordando com Benatar, de que a vida é mesmo algo que só traz sofrimento.

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  8. É, David Benatar, você não é um cara legal, não, ao contrário, está na contramão de si mesmo e o mundo seria melhor se você não houvesse nascido para ocupar o lugar de um ser humano precioso como a americana Helen Keller, cega e surda desde 19 meses de idade que se tornou escritora, filósofa, conferencista, recebendo inúmeras condecorações, dentre elas, a Ordem do Cruzeiro do Sul, no Brasil e a do Tesouro Sagrado no Japão. Ou como o australiano Nick Vujicic, nascido sem braços e sem pernas, que também é um cara pra lá de legal: palestrante motivacional leva esperança e um sentido para a vida a milhões de pessoas “perfeitas”, que nasceram com braços e pernas mas não sabem usa-los para serem felizes. Formado aos 21 anos de idade em Contabilidade e Planejamento Financeiro, casado e pai de dois filhos, pratica surf, joga golfe, dirige, escreve e iniciou, aos 17 anos de idade a Life Without Limbs (Vida Sem Membros), uma organização sem fins lucrativos que compartilha vitória, otimismo e felicidade com os mais “pobres de espírito” a fim de enriquece-los com bens eternos. David Benats não é apenas “o filósofo mais pessimista do mundo” mas aquele ser humano que não faz falta nenhuma nele, pelo contrário, só atrapalha quem precisa enxergar, escutar, caminhar e de mãos postas agradecer pelo tesouro EXTRAORDINÁRIO que é VIVER.

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  9. O movimento de extinção humana voluntária já existe a muito tempo. É um material imenso que com pouco mais de reflexão sobre o assunto pode fazer vc ver o quanto isso é benéfico pra humanos e pra todo o planeta!
    O filme onde está segunda mostra um futuro próximo. E o paradoxo da reprodução humana.

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