03/10/2017

As rãs que custam mais de €500

Importar ou exportar bichos nunca deu certo porque, nas mãos de seres humanos, tudo vira um desastre. É só um bestalhão não querer mais aquele determinado bicho de outro ecossistema e soltar na natureza que rola a desgraceira toda....
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São criadas em laboratório e vendidas como animais de estimação. A Wikiri, empresa de comércio bio, exporta
anfíbios e investe os lucros na conservação e investigação da espécie

Uma é venenosa, tem a pele em tons alaranjados e é muito cobiçada por coleccionadores – é conhecida por rã diabo. Outra tem a pele translúcida e por isso os seus órgãos podem ser vistos a olho nu enquanto se move – chama-se rã de vidro. Na sede da Wikiri, empresa equatoriana de preservação e comércio de anfíbios, há 16 espécies de rãs raras. São criadas ali, num complexo de 5 mil m2 em Vale de Los Chillos, a 30 quilómetros de Quito, a capital, para serem vendidas para a Europa e para a América do Norte como animais de estimação. As mais raras chegam a custar cerca de 511 euros. "Este valor permite ter uma ideia do quão lucrativo este negócio pode ser", admitiu María Dolores Guarderas, gestora da Wikiri, à agência France-Presse.

Desde a fundação, em 2010, a empresa já arrecadou mais de 500 mil euros com exportações para países como a Alemanha, Holanda, Canadá, Reino Unido e Japão. "No Equador é muito difícil arranjar recursos económicos para fazer ciência e investigação. [Através da Wikiri] encontrámos uma forma inovadora de conseguir recursos. Ao vender as rãs captamos financiamento para suportar a investigação científica, a conservação das espécies e a educação de crianças e jovens", explicou a gestora à revista equatoriana Lideres.

Nenhum dos animais comercializados pela Wikiri está em perigo de extinção ou é proveniente de capturas feitas nos bosques. "São rãs de terceira geração", esclareceu María Dolores Guarderas, ao jornal El Telégrafo. E sublinha: "Criamos duas gerações e vendemos a terceira".

Antes do embarque
Depois de crescerem em terrários, e antes de saírem do país, os anfíbios são analisados por uma veterinária, que os desparasita e lhes administra um tratamento preventivo contra a quitridiomicose. A doença, causada por um fungo, tem sido responsável pelo declínio de populações de todo o mundo – levou já à extinção de 200 espécies, de acordo com a agência ibero-americana para a difusão de ciência e tecnologia.

Depois de se certificarem que estão saudáveis, os técnicos da Wikiri colocam as rãs em contentores de plástico especiais que mantêm a humidade. Para que possam ser identificadas ao longo do processo de venda, fotografam-nas individualmente e atribuem-lhes um código. No avião viajam no espaço reservado aos animais de estimação.

Além da exportação, os lucros da Wikiri provêm também da venda de terrários, que mimetizam o habitat natural dos anfíbios, com plantas, água e um sistema automático que regula a temperatura e a humidade. Os mais pequenos custam 194 euros, mas o valor pode atingir vários milhares, se o terrário for muito grande. A câmara municipal de Quito, por exemplo, comprou um por cerca de 17 mil euros – tem três metros de comprimento, dois de largura e um de profundidade. Está em exposição nas suas instalações.

Segundo dados das Nações Unidas, divulgados no fim de 2016, o comércio sustentável de plantas e animais – o chamado BioTrade (comércio bio) – está a ganhar raízes. Se em 2003, as exportações nesta área valiam 34 milhões de euros, em 2015 o número disparou para cerca de 3,8 mil milhões.

O boom do biotrade
A ideia é que o negócio permita investir na conservação e estudo da fauna e da flora. É esse, aliás, um dos objectivos da Wikiri, como frisou María Dolores Guarderas a vários meios de comunicação social. Nos últimos sete anos, a empresa investiu meio milhão de euros em projectos de conservação de anfíbios em risco de extinção.

A organização procura também dar primazia aos locais na hora de contratar funcionários e disponibiliza bolsas de estudo a jovens que vivem nas zonas onde os cientistas estudam as rãs e os seus habitats. A ideia é que, mais tarde, possam contribuir para os estudos sobre a temática.

Apesar de admitir que os objectivos da empresa são nobres, o académico Santiago Ron, um dos especialistas mais reconhecidos na área, disse ao El Mundo que continua a não concordar com o comércio de fauna e flora. "Há o risco de exportar doenças que podem acabar com populações inteiras noutros territórios", adiantou, recordando o caso da Jambato-negro, espécie tropical dizimada nas décadas de 1980 e 1990 por causa de um fungo importado.

FONTE: sabado.pt

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