17/01/2017

Polêmica sobre animais e editais raros são empecilhos para a arte circense

Do jeito que eles falam dá uma peninha.... ô, coitados!!!!!!
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RIO - A chimpanzé Nina tinha 35 anos, uma vida quase toda passada na estrada com a trupe do Circo Stankowich, o mais antigo do país em atividade. 

Nina não estava sozinha: junto a mais de 150 funcionários, entre eles biólogos e veterinários, o Stankowich mantinha elefantes, tigres, ursos, cavalos, um verdadeiro
zoológico ambulante para seguir a tradição. Seu patriarca no Brasil foi Pedro Stankowich, um romeno que chegou ao país em 1856, trazendo seus animais amestrados.

Há seis anos, porém, a família Stankowich teve que abrir mão de Nina e dos outros bichos, por pressão de organizações e pela aprovação de leis que proíbem a participação de animais em circo. Nina foi deixada no Zoológico de Pomerode, em Santa Catarina.

— Em 2011, houve uma enchente em Santa Catarina, e a Nina morreu afogada no zoológico. Eu fico emocionado em lembrar. Para todos os circenses, os animais eram parte da família — diz Marcio Stankowich, um dos irmãos que administra o circo da família. — Não tínhamos como brigar, em todas as cidades éramos recebidos por protestos de ONGs. A gente vive de levar alegria, não de polêmicas.

Na última década, a proibição dos animais foi um baque grande na atividade circense em todo o país. O tema é polêmico, e ainda não há uma lei vedando a participação em âmbito federal: um projeto foi apresentado em 2003 pelo senador Alvaro Dias (PV), regulamento a presença dos bichos, mas acabou modificado em discussões no Congresso para a exclusão completa de todas as espécies, exceto o ser humano — ainda não há data para sua votação em plenário. O que há hoje são leis municipais e estaduais, a grande maioria pela proibição.

Orlando Orfei e seu leão - Divulgação

Para os circenses, as novas regras trouxeram dificuldades financeiras. Numa arte que vive quase exclusivamente da bilheteria, com raros apoios de editais públicos, muitas trupes — como a de Orlando Orfei (1920-2015), dono de um picadeiro famoso no Rio dos anos 1970 — tinham seu maior atrativo nos animais.

— Sofremos perseguição por causa dos animais. Fez-se uma campanha terrível, como se todos maltratassem os bichos — afirma Edlamar Zanchettini, administradora do Circo Zanchettini, fundado por seus avós no Paraná. — Entramos com uma ação na Justiça e pelo menos conseguimos o direito de manter os animais, mas eles não podem se apresentar. É por isso que a gente vê circos abrindo espaço para shows de “Frozen” e coisas que nada têm a ver com a arte circense.

As críticas à presença dos animais se intensificaram na virada dos anos 2000 devido a denúncias de maus-tratos. Por outro lado, os circenses sempre questionaram o que chamam de preconceito contra seu ofício, apontando que animais são utilizados em programas de TV, jóqueis-clubes, rodeios e operações policiais.

— Eu fui criada com bichos, eles sempre foram bem tratados, mas para tudo tem seu tempo — afirma Delisier Rethy, acrobata de 78 anos, que nasceu em picadeiro e hoje é professora da Escola Nacional de Circo, no Rio. — Acho justa a proibição. Os animais deveriam voltar para o lugar deles. Nem no zoológico deveria haver.

LEIS DE INCENTIVO LONGE DO PICADEIRO
A disputa entre defensores e detratores da presença de animais acabou dando visibilidade a outros problemas dos circos. No interior, muitos deles ainda conseguem garantir público suficiente para se sustentar, mas manter a estrutura de um picadeiro é caríssimo — mais caro ainda com os bichos. Um circo grande como o Stankowich, que possui duas unidades com cerca de dez caminhões cada, tem gasto fixo de ao menos R$ 120 mil por mês. Para se instalar numa cidade, com aluguel de terreno, transporte, luz, esgoto e água e mais anúncios para chamar o público, são necessários mais R$ 150 mil.

Outra dificuldade é lidar com a falta de conhecimento sobre os direitos dos circenses. Há leis que obrigam escolas públicas a aceitarem os filhos de artistas itinerantes em qualquer momento do ano, mas nem sempre são respeitadas. O mesmo acontece no acesso a postos de saúde.

— Os meus filhos mudam de escola uma vez por mês. É o tempo que a gente fica numa cidade — conta Cesar Guimarães, responsável pelo Circo Fiesta, baseado em São Paulo. — Mas a gente precisa brigar para as crianças serem aceitas, temos que levar a lei impressa nas secretarias de Educação. Os diretores das escolas acham que a gente está pedindo favor.

 Cesar é, também, presidente da Cooperativa Brasileira de Circo, que tem 640 associados. A maior negociação com gestores públicos passa pela criação e manutenção de editais de apoio. Rio e São Paulo têm os seus, mas o mais reconhecido desses é o Prêmio Carequinha, administrado pela Funarte, que abriu linhas pela última vez em 2015, com R$ 6 milhões para trocas de lonas e desenvolvimento de espetáculos. Houve atraso, mas a instituição garante que o valor foi pago em 2016.

As leis de incentivo também parecem distantes da arte circense. Em 2016 foram apresentados à Lei Rouanet apenas 35 projetos de circo — de teatro foram, por exemplo, 1.057; de dança, 340; e de exposições de arte, 296.

— A gente tem conseguido que outros editais, como o de iluminação para espetáculos e de residência artística, também abracem o circo. Mas ainda é pouco. Os circos se mantêm mesmo pela bilheteria — diz Marcos Teixeira Campos, coordenador de Circo da Funarte. — Temos um plano de fazer um levantamento do número de circos no Brasil. Ninguém sabe quantos são, eles fecham e abrem a todo momento. Quando cheguei à Coordenação de Circo, em 2005, falavam que era entre 500 e 2.500. Parecia piada.

Fonte: O Globo

4 comentários:

  1. ñ tem que por animais nenhum em circos! circo legal ñ tem animal!

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  2. Ta na cara que uma jaula e um chicote em nada se parecem ao Habitat dos animais sequestrados para serem escravos treinados para o show que mantém a “sagrada tradição circense” e nos intervalos levarem “a boa vida” de um sentenciado na gaiola e na corrente arrastados de uma cidade para outra como petecas. Donos de circo não enxergam o óbvio que o público felizmente já começa a ver, que essa palhaçada de usar animais pra dançar, rebolar e receber ordens de comando, já era. Palhaços, trapezistas, mágicos, contorcionistas e malabaristas são bem vindos porque são voluntários para o trabalho porém animais não escolheram, não merecem fazer parte dessa arena mesmo porque o Cirque Du Soleil ficou famoso justamente por não apresentar animais em seu show, aprendam o truque com eles.

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  3. Há trinta anos, aproximadamente, levei meus filhos a um circo perto da minha casa.

    Tudo ia muito bem com palhaços, equilibristas e malabaristas até o início das apresentações que envolviam animais.

    Num dos momentos em que o “espetáculo” apresentava leões, o adestrador (um cretino, na minha opinião) em detrimento ao roteiro e com a negativa de um dos animais em realizar a destreza da programação, agrediu uma fêmea com uma barra de aço reluzente, e que a feriu na boca causando um visível sangramento.

    Aquilo me chocou e eu (por incrível que pareça) fui o único da platéia a se levantar e a gritar desaprovando a agressão covarde e desnecessária. Certamente que fui visto por todos como um “bobão” que só poderia estar querendo aparecer, pelo menos foi assim que acreditei estarem pensando.

    No mesmo instante me retirei, peguei as crianças e segui em direção a um Batalhão da Polícia Militar que se situava a 200 metros do local. Ao policial de plantão fiz a comunicação do que tinha presenciado e pedi intervenção, mas ele nada fez alegando que não era da alçada da Polícia agir contra esses casos, então segui para casa e ao chegar, liguei para o telefone da Central de Emergência da Polícia Militar, que também deu a mesma resposta. Como era noite, eu não tinha muito que fazer e esperei o dia seguinte a fim contatar o IBAMA.

    Já no outro dia e receoso de não haver mais provas do que eu tinha a relatar, liguei para o IBAMA que, não diferente da Polícia, alegou impossibilidades e dentre elas, que os leões não faziam parte da nossa fauna.

    Procurei outros meios como rádios e nada consegui, até que me lembrei da TV e seus programas investigativos e, dessa vez confiante, consegui contatar o jornalismo de uma emissora líder de audiência.
    A jornalista escutou o que eu tinha a falar, foi muito atenciosa e se comprometeu a ir ao local para colher depoimentos e imagens, mas infelizmente me decepcionei mais uma vez, pois nem ela e nem qualquer outra pessoa apareceu como o prometido.

    Então fui ao dono do terreno, que por ironia era primo da minha esposa e, diante do teor do contrato de aluguel e por não haver qualquer dano ao patrimônio, também nada pode fazer.

    Infelizmente eu tive que amargar a minha derrota através da inoperância dos órgãos que coíbem abusos e fiscalizam o maltrato, bem como, a derrota dos animais pelas mãos daquele adestrador cretino e sem compaixão.

    Bem... Esse foi um caso em que eu protagonizei e fui impotente por falta de apoio das autoridades. Lamentavelmente esses casos ainda se repetem mundo a fora e milhares de olhos que buscam divertimentos os encontram, porém, sob a conivência do maltrato e desrespeito à vida digna que cada um de nós tem direito.

    Infelizmente, hoje, as famílias circenses atravessam problemas aqui no Brasil, portanto, é hora de se adaptarem as novas regras do jogo.

    Não é aceitável por mim (e nem por muitos) que qualquer espécie se torne forçadamente elemento de alegria para espectadores sem compromissos com vidas alheias e, por mais que alguma rara companhia de circo se empenhe a fim de dar vidas dignas aos pobres explorados jamais conseguirá enquanto extrair ou financiar a extração de seres selvagens dos seus habitats naturais, condenando-os à prisão perpétua com requintes de crueldades sob as finas pontas das lanças ou açoites cadenciados dos impiedosos chicotes, incumbidos de sobreviverem unicamente para arrancarem expressões hilárias dos seres que se consideram os mais racionais de todos.

    A minha racionalidade não reconhece que haja irracionais vivos, portanto, ou todos nós seres vivos somos racionais ou ninguém o é...

    Que a proibição se espalhe pelo mundo em nome da vida, da liberdade e da dignidade animal!

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  4. Quero avisar aos donos de circos que o nome disso é evolução. As pessoas estão evoluindo e está cada vez mais difícil, aceitar a aberração que é apresentação de animais em circo como "divertimento". Circo é a graça dos palhaços, o equilíbrio dos malabaristas, a beleza dos trapezistas assim como no único circo que vejo com bons olhos que é o Cirque du Soleil.
    Pelos direitos da criança, essa gente nem deveria ter filhos ou então, contratar um professor particular para eles, pois se para uma criança já é difícil mudar de escola ou até mesmo de ano letivo, imaginem uma criança que não tem nem lugar fixo para morar?
    Essa gente de circo é mesmo muito egoísta, pois não pensam nem nos animais e nem nos próprios filhos.

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