16/08/2016

Animais tomam conta dos locais de competição do Rio

Os gringos estão encantados.....
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Quero-queros e até cobras e jacarés habitam de forma controlada vários locais de competição

O espanhol Sergio Garcia, um dos favoritos à medalha de ouro no golfe, caminhava na manhã de ontem no Campo Olímpico, onde a competição começa amanhã, quando interrompeu o passo. “Que beleza!”, exclamou ele, apontando para um canto do gramado. Ali, uma coruja-buraqueira acompanhava impassiva o vai e vem dos jogadores. Se tivesse tempo para andar pelo terreno, Garcia poderia encontrar capivaras, quero-queros, biguás e até cobras e
jacarés-de-papo-amarelo – como o Rio é uma cidade essencialmente verde, muitos pontos de disputa dos jogos necessitam do acompanhamento de especialistas em fauna e flora a fim de diminuir o impacto que as partidas possam provocar no ecossistema.

“O mais importante é não permitir mudanças drásticas”, comenta Tânia Braga, gerente-geral de sustentabilidade do comitê organizador Rio 2016. Ela e sua equipe de engenheiros agrônomos e ambientais cuidam de espaços como a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde acontecem as provas de remo e canoagem velocidade, a região da Vila Militar, em Deodoro, palco de inúmeras competições, e, principalmente, o Campo Olímpico de Golfe, na Barra da Tijuca, local com 18 buracos e paisagismo de vegetação nativa da região – fruto de um projeto de recuperação ambiental.

O cuidado tem de ser constante. Na Lagoa, por exemplo, já foi recolhida mais de uma centena de gatos e cachorros. Também foi necessário cuidar de um ninho com ovos de quero-quero, localizado perto da área onde ficam os barcos dos atletas. Até uma jiboia já foi retirada do local. Os animais de estimação são encaminhados para uma fazenda, onde são castrados e disponibilizados para adoção.

Mas o grande paraíso animal e vegetal rodeia os golfistas. O centro olímpico ocupa uma área de 1 milhão de metros quadrados, equivalente a 200 estádios do Maracanã. “Ali era um espaço ocupado por mangues e restingas, mas perdeu quase 80% de sua configuração original nos anos 1980 e 90, com a retirada ilegal de areia”, conta o engenheiro ambiental Ricardo Rettermann. “Com a Olimpíada, foi possível revitalizar a área e reconstituir boa parte dela.” Como prova, ele mostra um quero-quero, ave que se tornou o símbolo da biodiversidade dos jogos por sua atitude de resistência, usando da agressividade para defender a própria espécie.

O Estado caminhou ontem pelo campo de golfe que, depois dos jogos, vai se tornar de uso público. Bancos de areia, onde florescem as restingas, despontam como pontos brancos em meio ao tapete verde. Ali é local ideal para a coruja-buraqueira, aquela que encantou o espanhol Sergio Garcia, construir seu ninho e alimentar os filhotes. “Elas conseguem girar a cabeça em até 270°”, informa Rettmann. “E, graças ao movimento constante, já se acostumaram com a presença humana.”

O mesmo não pode se dizer do jacaré-de-papo-amarelo. Com 4 metros de comprimento e estimativa de vida beirando os 50 anos, o animal tem uma mordida tão potente que é capaz de rachar o casco de uma tartaruga. “Mas, ao contrário dos jacarés que habitam locais como a Flórida, que são agressivos, esses fogem quando alguém se aproxima”, observa Mario Rotnizky, engenheiro agrônomo argentino que acompanha o projeto desde o início, há dois anos.

Duas lagoas naturais estão encravadas no centro olímpico e são vitais para o equilíbrio ecológico da área. “Elas fornecem água para a vegetação que, por sua vez, atrai pássaros migratórios que chegam em diferentes épocas do ano”, comenta Ricardo Rettermann.

Os torcedores que forem assistir aos jogos de golfe (a disputa masculina começa amanhã e a feminina, dia 17) poderão fazer um tour guiado para descobrir os segredos da biodiversidade das áreas que circundam o campo. Oportunidade para reconhecer a camboatá, uma árvore de 15 metros que, na evolução natural, está no meio do caminho entre a restinga e as espécies maiores de mata atlântica. Vai conhecer também a figueira que está próxima do buraco 13. Sua história é curiosa. O plano original previa sua retirada assim como duas outras da mesma espécie para deixar espaço para a grama verde. Os cientistas brasileiros, no entanto, convenceram os responsáveis do projeto a deixar ao menos um exemplar – as outras foram replantadas com sucesso. “A figueira mantida, além de embelezar o espaço, acrescentou uma interessante dificuldade para os golfistas”, conta Rotnizky.

Perto da figueira, é possível ver outra árvore, a embaúba, a preferida do bicho-preguiça que vive no local. “Seus hábitos são curiosos, pois costuma dormir durante 14 horas e, como tem um metabolismo lento, anda devagar: no mesmo tempo em que percorre 1 metro, o homem faz 45 metros”, diz Rettmann. E, ao lado da embaúba, está uma cerca, que delimita o perímetro do centro olímpico. “Ela também impede a vinda de capivaras, que fazem buracos no campo de golfe”, explica Tânia Braga. “A cerca ainda protege os animais, que podem viver em tranquilidade com suas famílias.”

FONTE: esportes.estadao

Um comentário:

  1. E quando os jogos terminarem, esses animais ficarão protegidos?

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