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Nunca houve tamanha procura pelo foie gras em São Paulo como nas últimas duas semanas, desde que o prefeito Fernando Haddad sancionou o projeto de lei que proíbe a produção e o consumo do fígado gordo de pato ou ganso na cidade.
São poucos os estabelecimentos que oferecem o produto – cujo preço varia de R$ 308 a R$ 435, o quilo, nas lojas; nos restaurantes, um prato com foie gras chega a custarR$ 124. Mas eles viram
os estoques baixarem rapidamente.
Antes do anúncio da proibição, a Casa Santa Luzia vendia, em média, 4 quilos de foie gras importado por semana. Nos três dias depois do anúncio, vendeu onze quilos. E na semana seguinte, a venda triplicou: foram doze quilos. Assim que a notícia foi divulgada, muitos clientes foram ao Varanda Frutas em busca da iguaria – as latinhas de foie gras importado estavam, como sempre, sobre o balcão de frios e no freezer havia o produto da Agrivert, um dos três produtores brasileiros. Mas o gerente da casa ainda estava sem saber se deveria retirar os produtos ou se continuava a vender.
Apesar de a proibição e a multa de R$ 5 mil só entrarem em vigor no dia 9 de agosto, os comerciantes estão receosos em falar do assunto. No Empório Santa Maria, ninguém quer dar números. E mesmo com o aumento da procura, não há quem planeje reabastecer a loja. “Não vamos repor nosso estoque até sabermos o que vai acontecer”, diz Carlos Gonçalves, gerente da Casa Santa Luzia.
Nos restaurantes, a procura pelo foie gras também cresceu. Os sócios do Loi Ristorantino estão preocupados com a proibição: o filetto di manzo alla rossini classico, filé mignon com trufas pretas, foie gras e batatas gratinadas, é um dos mais pedidos do cardápio. Só em junho, foram vendidas 200 unidades do prato que custa R$124. A partir de 9 de agosto, ele será descaracterizado,sai sem foie gras. No Tête à Tête, a proibição também vai reduzir o faturamento do restaurante: metade dos clientes que pedem entrada optam pela terrine de foie gras servida com compota de cupuaçu com damasco, rúcula e gengibre confit. No Tuju, o menu-degustação vai servir tapioca com foie gras e geleia de cambuci até o fim do estoque.
A Associação dos Profissionais de Cozinha (APC)luta contra a medida com base em três argumentos: a inconstitucionalidade da medida; os métodos modernos de produção do foie gras promovem menos sofrimento; a liberdade individual de escolher o que comer.
A Associação Brasileira dos Bares e Restaurantes (Abrasel) cogita entrar com mandado de segurança para impedir possíveis autuações. A produção pode ser proibida no município. A comercialização, não. É de competência exclusiva da União.
Confit e magret têm seus dias contados
Junto com o foie gras, dois outros clássicos franceses vão desaparecer dos cardápios paulistanos: o confit e o magret, que dependem da gordura do pato para serem produzidos. E esta é uma incoerência do projeto de lei – o argumento para a proibição é a crueldade da gavagem, mas o método de engorda das aves não foi proibido. Só o fígado gordo. O confit é um processo de conservação em que partes da ave, geralmente coxa e sobrecoxa, são cozidas e conservadas na gordura. E o magret é o peito do pato gordo, geralmente servido fresco grelhado ou defumado. Ou seja, ambos dependem da gordura do pato.
A questão é que a venda do fígado gordo é o que compensa – o preço corresponde a até metade do preço de um moulard, o híbrido de pato e ganso. Ou seja, manter a estrutura apenas para vender confit, magret e gordura, descartando o foie gras, não é bom negócio. “Não conseguiria me manter só com as vendas de foie gras para o interior do Estado”, diz Pierre Reichart, da Chez Pierre. A situação da Villa Germânia, em Santa Catarina é melhor: “Nossa maior produção é o pato à pequim, além disso, vendemos para outras capitais, como o Rio de Janeiro”.
Califórnia e Chicago baniram. E voltaram atrás
Depois de quase dois anos de proibição, a Califórnia liberou a venda de foie gras em janeiro deste ano. O que houve? Um juiz federal decidiu que a proibição feita na Califórnia era inconstitucional porque interferia em uma lei federal que regula produtos avícolas. Resultado: o foie gras pode ser vendido, mas não produzido ali. Chicago, a primeira cidade nos Estados Unidos a proibir o foie gras também voltou atrás. A proibição ali durou de 2006 a 2008 e teve dois grandes focos de resistência.
O maior foi o chef Charlie Trotter, morto em 2013. E o outro, inesperado, foi a mítica casa de hot-dogs, recém-fechada, Hot Doug’s. Por idealismo e paixão pela iguaria, o proprietário e criador do menu Doug Sohn resolveu infringir a lei classificada como “ridícula” pelo então prefeito Richard Daley. E mesmo com as notificações do Departamento de Saúde Pública de Chicago, Doug Sohn não parou de vender seu cachorro-quente de salsicha feita com pato, Sauternes e foie gras, servido com aioli trufado, musse de foie gras e flor de sal. Foi multado em US$ 250, emoldurou as notificações e pendurou na parede da lanchonete. “Ignorei a lei e fui vencedor”, afirmou à época.
FONTE: blogsestadao
São poucos os estabelecimentos que oferecem o produto – cujo preço varia de R$ 308 a R$ 435, o quilo, nas lojas; nos restaurantes, um prato com foie gras chega a custarR$ 124. Mas eles viram
os estoques baixarem rapidamente.
Antes do anúncio da proibição, a Casa Santa Luzia vendia, em média, 4 quilos de foie gras importado por semana. Nos três dias depois do anúncio, vendeu onze quilos. E na semana seguinte, a venda triplicou: foram doze quilos. Assim que a notícia foi divulgada, muitos clientes foram ao Varanda Frutas em busca da iguaria – as latinhas de foie gras importado estavam, como sempre, sobre o balcão de frios e no freezer havia o produto da Agrivert, um dos três produtores brasileiros. Mas o gerente da casa ainda estava sem saber se deveria retirar os produtos ou se continuava a vender.
Apesar de a proibição e a multa de R$ 5 mil só entrarem em vigor no dia 9 de agosto, os comerciantes estão receosos em falar do assunto. No Empório Santa Maria, ninguém quer dar números. E mesmo com o aumento da procura, não há quem planeje reabastecer a loja. “Não vamos repor nosso estoque até sabermos o que vai acontecer”, diz Carlos Gonçalves, gerente da Casa Santa Luzia.
Nos restaurantes, a procura pelo foie gras também cresceu. Os sócios do Loi Ristorantino estão preocupados com a proibição: o filetto di manzo alla rossini classico, filé mignon com trufas pretas, foie gras e batatas gratinadas, é um dos mais pedidos do cardápio. Só em junho, foram vendidas 200 unidades do prato que custa R$124. A partir de 9 de agosto, ele será descaracterizado,sai sem foie gras. No Tête à Tête, a proibição também vai reduzir o faturamento do restaurante: metade dos clientes que pedem entrada optam pela terrine de foie gras servida com compota de cupuaçu com damasco, rúcula e gengibre confit. No Tuju, o menu-degustação vai servir tapioca com foie gras e geleia de cambuci até o fim do estoque.
A Associação dos Profissionais de Cozinha (APC)luta contra a medida com base em três argumentos: a inconstitucionalidade da medida; os métodos modernos de produção do foie gras promovem menos sofrimento; a liberdade individual de escolher o que comer.
A Associação Brasileira dos Bares e Restaurantes (Abrasel) cogita entrar com mandado de segurança para impedir possíveis autuações. A produção pode ser proibida no município. A comercialização, não. É de competência exclusiva da União.
Confit e magret têm seus dias contados
Junto com o foie gras, dois outros clássicos franceses vão desaparecer dos cardápios paulistanos: o confit e o magret, que dependem da gordura do pato para serem produzidos. E esta é uma incoerência do projeto de lei – o argumento para a proibição é a crueldade da gavagem, mas o método de engorda das aves não foi proibido. Só o fígado gordo. O confit é um processo de conservação em que partes da ave, geralmente coxa e sobrecoxa, são cozidas e conservadas na gordura. E o magret é o peito do pato gordo, geralmente servido fresco grelhado ou defumado. Ou seja, ambos dependem da gordura do pato.
A questão é que a venda do fígado gordo é o que compensa – o preço corresponde a até metade do preço de um moulard, o híbrido de pato e ganso. Ou seja, manter a estrutura apenas para vender confit, magret e gordura, descartando o foie gras, não é bom negócio. “Não conseguiria me manter só com as vendas de foie gras para o interior do Estado”, diz Pierre Reichart, da Chez Pierre. A situação da Villa Germânia, em Santa Catarina é melhor: “Nossa maior produção é o pato à pequim, além disso, vendemos para outras capitais, como o Rio de Janeiro”.
Califórnia e Chicago baniram. E voltaram atrás
Depois de quase dois anos de proibição, a Califórnia liberou a venda de foie gras em janeiro deste ano. O que houve? Um juiz federal decidiu que a proibição feita na Califórnia era inconstitucional porque interferia em uma lei federal que regula produtos avícolas. Resultado: o foie gras pode ser vendido, mas não produzido ali. Chicago, a primeira cidade nos Estados Unidos a proibir o foie gras também voltou atrás. A proibição ali durou de 2006 a 2008 e teve dois grandes focos de resistência.
O maior foi o chef Charlie Trotter, morto em 2013. E o outro, inesperado, foi a mítica casa de hot-dogs, recém-fechada, Hot Doug’s. Por idealismo e paixão pela iguaria, o proprietário e criador do menu Doug Sohn resolveu infringir a lei classificada como “ridícula” pelo então prefeito Richard Daley. E mesmo com as notificações do Departamento de Saúde Pública de Chicago, Doug Sohn não parou de vender seu cachorro-quente de salsicha feita com pato, Sauternes e foie gras, servido com aioli trufado, musse de foie gras e flor de sal. Foi multado em US$ 250, emoldurou as notificações e pendurou na parede da lanchonete. “Ignorei a lei e fui vencedor”, afirmou à época.
Sirva-se
A venda de fígado de pato gordo ainda está liberada: a proibição em São Paulo entra em vigor em 9 de agosto. Veja onde encontrar pratos com a iguaria na capital:
A venda de fígado de pato gordo ainda está liberada: a proibição em São Paulo entra em vigor em 9 de agosto. Veja onde encontrar pratos com a iguaria na capital:
FOTOS: Divulgação
Terrine de foie gras – La Casserole
Essa terrine já completou duas décadas no cardápio do restaurante francês. R$ 83. Onde: Largo Do Arouche, 346, República, 3331-6283
Cannelloni de pato com foie gras e molho de beterraba – Così
Onde: R. Barão de Tatuí, 302, V. Buarque, 3826-5088
Consommé de carne e cogumelos – Miya
Leva cubinhos de foie gras. Onde: R. Fradique Coutinho, 47, Pinheiros, 2359-8760
Trio de bombons – Maní
Parecem doces, mas os pequeninos são recheados de foie gras, guacamole e gorgonzola. R$ 65. Onde: R. Joaquim Antunes, 210, Pinheiros, 3085-4148
Quack quack – Meats
O hambúrguer leva foie gras ralado na hora e redução de tucupi. R$ 64. Onde: R. dos Pinheiros, 320, Pinheiros, 2679-6323
Maguro foie gras tartar to ikura – Kinoshita
Tartar de atum com ovas. R$ 76. Onde: R. Jacques Félix, 405, V. N. Conceição, 3849-6940
Filetto di manzo alla rossini – Fasano
Vem com escalope de foie gras, aspargos e batatas. R$ 159. Onde: R. Vitório Fasano, 88, Cerqueira César, 3062-4000
FONTE: blogsestadao
Tá bom interessante a reportagem, informativa, mas não entendi a bela apresentação , descrição e preço dos pratos. O SIRVA-SE soou como uma propaganda incentivadora para o consumo do foie-gras. Vocês estão fazendo propaganda para o consumo ou criticando o foie-gras? Eu entendi como indicação de onde buscar este prato cruel. Decepcionante
ResponderExcluirTerêncio, vc. está perguntando a mim ou ao autor da matéria que é o Jornal Estadão? Eu puliquei porque temos que ficar a par de como a coisa se desenrola, obviamente.
ExcluirA Folha de São Paulo também listou os locais onde a iguaria ainda podia ser encontrada até findarem os estoques - para venda in natura e os pratos produzidos com. Decepcionante! Os caipiras, que outrora não tinham posses para pagar ao menos por um filé, hoje não podem mais viver sem foie gras. Ridículo! Curioso observar que nos Estados Unidos, um chefe que era a favor da venda de foie gras e lutou pelo restabelecimento de sua venda faleceu - e já foi tarde - e a casa que desobedeceu a lei e continuou a vendê-lo faliu. Bem feito!
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