Logo que eu peguei o Simon, fui avisado de que como qualquer animal, ele envelheceria, poderia ficar doente e se alcançasse os dez anos, deveria se aposentar. E essa hora chegou, infelizmente.
Nasci com baixíssima visão e, por volta dos 12 anos, perdi a pouca que tinha. Aprendi a usar a bengala e sempre me virei bem com ela. Mas, quando o Simon chegou, a minha independência aumentou consideravelmente. Enquanto com a bengala eu precisava tocar nas barreiras para então desviar delas, com o cão eu nem as sinto.
Para o Simon chegar até mim tive que passar por uma bateria de entrevistas. Da inscrição até
efetivamente buscá-lo foram oito meses. Foi relativamente rápido, porque hoje a fila de espera por um cão-guia chega a cinco mil pessoas.
efetivamente buscá-lo foram oito meses. Foi relativamente rápido, porque hoje a fila de espera por um cão-guia chega a cinco mil pessoas.
O Instituto Iris custeou minha ida aos Estados Unidos. Eles são parceiros do Leader Dog for the Blind, uma escola de treinamento de cães localizada em Rochester Hills, no Michigan. Lá passei um mês aprendendo, entre tantas coisas, os 80 comandos que uso com o Simon. Todos em inglês. As brincadeiras, a hora do lazer e o carinho são dados em português, mesmo.
Nossa completa adaptação durou um ano. É igualzinho a um casamento: primeiro você conhece, depois conquista e enfim aprende a conviver. Só não tem as brigas. Ele tem a minha total confiança, e em troca ele entrega os olhos e a atenção para mim. Com o Simon, cursei Ciências Sociais. Costumo brincar que ele é o primeiro cão-guia sociólogo do Brasil.
Viajamos diariamente de Jundiaí, onde moro, para São Paulo, onde trabalho na Laramara. Já fomos para Argentina, México, Uruguai, Paraguai, Portugal e Espanha. O Simon tem uma saúde de ferro. Poucas foram as vezes que ficou em casa, sem trabalhar.
Uma vez, o Simon prendeu a patinha na escada rolante do metrô. Deve ter doído muito. Mas ele não permitiu que eu tocasse nela e verificasse o que tinha ocorrido. Só me deixou tocar quando cheguei seguro ao meu local de trabalho.
Também lembro do dia em que Simon mudou o caminho que fazíamos rotineiramente. Achei que algo o distraia. Ainda bem que ele estava lá. Uma pessoa me avisou que do outro lado havia uma enorme cratera por causa de uma obra na rua.
Outra situação marcante foi quando ele encontrou sem dificuldade nenhuma a entrada do prédio de um consultório médico que eu não ia há 4 anos. Achei inacreditável. Ô cãozinho esperto!
Eu tento não pensar muito como será minha vida sem ele. É um sentimento muito forte de perda. Nossa ligação sempre foi muito intensa, quase telepática. Mas não dá mais. O Simon tem apresentado sinais de cansaço. Não está aguentando mais a minha rotina.
Optei em continuar com ele após a aposentadoria. Minha família tem condições de criá-lo e eu preciso retribuir toda a dedicação que ele teve comigo ao longo desses oito anos. Agora, ele vai relaxar e curtir o restante da vida, já que um labrador vive em média até os 14 anos.
Meu grande amigo, 24 horas ao meu lado, sempre fazendo das minhas longas caminhadas momentos mais agradáveis. Chegou a hora.
O último percurso que faremos juntos será nesta sexta-feira, dia 12 de setembro. Sigo para os Estados Unidos novamente, onde buscarei meu novo cão-guia.
Não sei sua cor, raça, nome. Simon me guiará até o aeroporto e já fica no Brasil como cão aposentado.
FONTE: Folha de SP
Aposentadoria merecida!!!! Cuida bem do Simon, com muito, muito amor!
ResponderExcluirLígia
Que texto lindo. Lágrimas são inevitáveis. Agora que Simon estará aposentado e por perto,terá uma continuação de vida muito feliz ,entre amigos. NORMA VALLE
ResponderExcluirO vídeo e o texto emocionam. Que bom saber que o Simon ficará entre amigos e feliz. NORMA VALLE
ResponderExcluirImportante saber se o cão ficará com o mesmo tutor e também quem vai guiar o Simon caso ele fique com problemas de visão, deficiência auditiva, problemas reumáticos ou qualquer outra limitação que a terceira idade costuma apresentar.
ResponderExcluirLi o texto é muito lindo. Ele merece se aposentar. É emocionante.
ResponderExcluirCuide bem deste amigo pois ele se doou completamente para vc!
ResponderExcluirli o texto é muito emocionante . ele merece se aposentar depois de lhe dar muito carinho e atenção o melhor vai acontecer ele ficará com vc e outro cão guia e terá uma companhia os 3 vão viver sempre juntos que deus te abençõe Simon por todos esses anos de dedicação para com seu tutor
ResponderExcluirSimplesmente emocionante!
ResponderExcluirJa li na UOl, que a familia vai ficar com o Simon e isso é menos mal
ResponderExcluirhttp://www1.folha.uol.com.br/multimidia/videocasts/2014/09/1513024-minha-historia-vou-aposentar-meu-cao-guia-veja-video-acessivel.shtml
Opssssssss, li aqui tambem que a familia vai ficar com o Simom, que bom !!!
ResponderExcluiro simom não foi seu guia(ele foi seu anjo da guarda, e alguem que deus colocou em seu caminho,como vai colocar outro agora e espero que tb/ tenha uma aposentadoria igual a de simom,mas o que queria dizer é que almas gemeas encontran-se sejam animais,humanos.....s.francisco agradece
ResponderExcluirO rapaz não usou Simon, ele conviveu com ele, pois além de guia, fez dele seu melhor amigo, não abrindo mão de sua companhia no final da carreira. Ele provou merecer um cão guia tão especial.
ResponderExcluirAmei demais essa postagem, fiquei muito emocionada.
Esses cães são incríveis!! Verdadeiros heróis!!
ResponderExcluirNão concordo com esse tipo de exploração. Seria o mesmo que nos colocassem uma coleira e nos obrigassem a ficar do lado de uma pessoa a vida toda, sem direito a brincar, sair, divertir, simplesmente fazer o que se tem vontade. Ok que o cachorro cumpriu sua tarefa com brilhantismo, mas isso é só porque o humano quer. Por que será que o contrário não acontece, ou seja, colocar um ser humano dedicado 24h/dia a um cão cego?
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