09/12/2013

Fábula: Quando a crueldade humana terá um fim?

Nossa amada Simone Nardi nos envia, diariamente, uns artigos muito interessantes escritos por ela e outras pessoas. Textos sempre singelos e recheados de toda verdade do mundo. Este ela publicou em seu blog, em 2006. Achei muito legal.... simples assim....
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Alguns anos atrás, todos os animais foram embora. Acordamos uma manhã e eles simplesmente não
estavam mais lá. Nem mesmo nos deixaram um bilhete ou disseram adeus. Nunca conseguimos saber ao certo para onde foram. Sentimos sua falta.

Alguns de nós pensaram que o mundo tinha se acabado, mas não tinha. Só que não havia mais animais. Não havia gatos ou coelhos, cachorros ou baleias, não havia peixes nos mares, nem pássaros nos céus. Estávamos sós. Não sabíamos o que fazer.

Vagueamos por aí, perdidos por um tempo, e então alguém observou que, só porque não tínhamos mais animais, não havia motivo para mudar nossas vidas. Não havia razão para mudar nossa dieta ou parar detestar produtos que podem nos fazer mal.

Afinal de contas, ainda havia os bebês.

Bebês não falam. Mal podem se mexer. O bebê não é uma criatura racional, pensante. Fizemos bebês. E os usamos. Alguns deles, comemos. Carne de bebê é tenra e suculenta. Esfolamos suas peles e nos enfeitamos com elas. Couro de bebê é macio e confortável.

Alguns deles, usamos em testes. Mantínhamos seus olhos abertos com fitas adesivas e pingávamos detergentes e shampoos neles, uma gota de cada vez. Nós os marcamos e os escaldamos. Nós os queimamos. Nós os prendemos com braçadeiras e plantamos eletrodos em seus cérebros. Enxertamos, congelamos e irradiamos. Os bebês respiravam nossa fumaça e, na veias dos bebês, fluiam nossos remédios e drogas, até eles pararem de respirar ou até o sangue deles não correr mais.

Era duro, é claro, mas necessário. Ninguém podia negar isso. Com a partida dos animais, o que mais podíamos fazer?

Algumas pessoas reclamaram, claro. Mas elas sempre fazem isso.
E tudo voltou ao normal.

Só que...

Ontem, todos os bebês se foram. Não sabemos para onde. Nem mesmo os vimos partir. Não sabemos o que vamos fazer sem eles. Mas pensaremos em algo. Humanos são espertos. É o que nos faz superiores aos animais e aos bebês. Vamos bolar alguma coisa. 

Neil Gaiman

Fonte: Consciência Humana

6 comentários:

  1. Custo a crer que um dia o ser humano terá consciência de sua pequena importância e respeitará um ser diferente.
    Claudete

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    Respostas
    1. Claudete, achei fantástico quando você diz "sua pequena importância". Precisamos ter consciência de que somos apenas mais uma espécie entre tantas outras, nem melhores e nem piores,apenas mais uma.

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  2. Excelente, como as demais obras desse gênio. Ele escreveu esse conto/fábula para a PETA, emendando a um comentário paradoxal e instigante (considerando seu estilo ácido, macabro e bastante escatológico) :

    "É a única coisa que escrevi que me perturba."

    Sobre a pergunta do post '' Quando a crueldade humana terá um fim?'', respondo: com o fim da humanidade.

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  3. Já pensei muito que seria uma benção e ao mesmo tempo um castigo, se de repente todos os animais morressem de uma só vez por causa de alguma doença inexplicável. Acho que por mais deprimente que fosse, seria melhor viver sem eles a vê-los morrer de forma cruel e desnecessária nas mãos de gente inescrupulosa.

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