Achei o artigo do Fábio Chaves bastante interessante ...... dá para refletir....
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Talvez esse seja um texto inesperado para a maioria dos leitores que acompanham meu trabalho. Confesso que é difícil escrever ou falar sobre isso sem imaginar o caminhão de julgamentos endereçado à minha porta.
Especismo está para as diferentes espécies de animais assim como o racismo está para as raças humanas. Quando uma pessoa acha que é superior a uma outra por causa da cor de sua
pele, está praticando racismo. Se nos vemos como uma espécie superior às outras, estamos praticando especismo, sendo especistas. Parece simples como “1 + 1 = 2”, mas não é matemática.
Uma vez me colocaram na fogueira – quase literalmente – com uma situação hipotética. Me jogaram em frente a uma casa em chamas com um bebê humano e um cachorro dentro. A regra, criada na hora, dizia que eu não tinha vínculo com nenhum dos dois. Ambos vivos e com plenas condições de serem salvos, mas só havia tempo e força física para retirar um. Qual salvar?
Eu salvaria o bebê humano e não me sinto muito culpado por isso. Mas é claro que parece uma declaração especista, concordo. A afeição que temos com os membros da nossa própria espécie e o instinto de querer que ela prospere me parecem fortes demais para negar que esses sentimentos existem. Embora não me sinta culpado, me incomoda.
A situação extrema, no entanto, não deveria servir como parâmetro. Isso porque em um momento de desespero, uma mãe poderia salvar seu filho de um penhasco enquanto vê, sem poder fazer nada, outra crianças despencar. Isso não quer dizer que ela faria mal a qualquer criança no seu dia a dia. Quem se atreveria dizer que essa mãe é má?
Quem nunca ouviu aquela da ilha deserta? Um clássico. “E se você estivesse em uma ilha deserta sem nada para comer e só tivesse uma vaca lá com você?” – perguntam os espertinhos. “Meu amigo, eu comeria até um outro ser humano se estivesse realmente morrendo de fome em uma ilha deserta.” – sempre respondo, olhando para a pessoa como se ela fosse um suculento pedaço de tofu temperado e grelhado. Então, sim, eu comeria a vaca em uma situação extrema. Mas, felizmente, isso não se compara a ir a um supermercado e escolher pegar pedaços de animais em bandejinhas de isopor.
Agora o que me incomoda mesmo – e foi daí que tirei o título desse texto – é não me sensibilizar tanto quando vejo o freezer de um açougue ou uma propaganda de carne na televisão. Eu sei que é porque fui criado em uma sociedade que come certos animais e acha isso normal. Eu achava normal até há alguns anos. Mas se fossem partes de cachorro ou mesmo de pessoas no intervalo do jornal, acho que eu prestaria mais atenção.
Como amante da gastronomia, assisto a alguns programas do gênero e, infelizmente, a maioria absoluta dos pratos apresentados envolve animais ou suas secreções. Eu assisto mesmo para ver se consigo extrair dali algumas técnicas novas para usar na culinária vegana.
Outro dia me peguei assistindo a um participante de reality show que cortava um peixe ao meio. A intenção do participante era fazer postas do corpo do animal, como mandava a prova que ele fazia. Naquele contexto, com música e clima de competição, por alguns segundos me esqueci que ele estava cortando em pedaços um ser que morreu asfixiado, com extrema dor e pânico. Nesse momento eu me senti um especista. Se fosse um cachorro ali na bancada eu não me esqueceria nem por um segundo do animal.
Eu estudo e divulgo os direitos animais há algum tempo e mesmo assim tenho meus momentos especistas – se é que posso classificar assim. Então, como será que fica a cabeça das pessoas que nunca pararam para pensar na questão animal? Elas são bombardeadas com informações de que é moralmente aceitável matar algumas espécies de animais. A cada dia, mesmo sem se dar conta disso, elas estão mais convencidas de que essas espécies estão aí para serem exploradas e mortas.
Se você tem esses “lapsos especistas” no seu dia a dia, como o fato de não estar completamente chocado pela foto que ilustra esse texto, não se desespere. Você não é “menos vegano” que ninguém ou respeita menos os animais. São apenas resquícios do que fizeram com nossa mente em relação aos animais desde o dia em que nascemos. É o reflexo em nós da sociedade em que vivemos.
FONTE: R7
Raphael Draccon, em seu livro Dragões de Éter, diz o seguinte: "Do ponto de vista animal, o humano que mata um boi ou uma vaca para alimentar-se é tão assassino quanto o lobo que mata um humano com o mesmo propósito." Concordo plenamente com ele, seja qual for o animal. Proteger um e comer o outro, não creio que seja coerente.
ResponderExcluirSe eu estivesse numa ilha deserta na companhia de uma vaca e não houvesse nada para comer eu não comeria a vaca e provavelmente ela também não me comeria porque somos veganas.
ResponderExcluirEu também acredito que não comeria
ExcluirÉ simples, a gente segue a vaca e o que ela comer, a gente come também. Se não mata a vaca, também não nos matará.
ExcluirConcordo, plenamente, com ambas, Yara e Sandra. Eu não comeria a vaquinha e morreria com ela de fome, assim como eles morrem de fome conosco ou antes de nós. Hoje, quando vou ao supermercado, procuro passar longe do açougue e de gôndolas frigoríficas onde estão os tais "pratos". Não suporto mais ver isso e nem o volume de derivados de leite que há nessas gôndolas também, assim como detesto esses realitys sobre gastronomia, para mim completamente sem sentido.
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